Julia Margaret Cameron |
Poetas niversitário,
Poetas
de Cademia,
De
rico vocabularo
Cheio
de mitologia;
Se
a gente canta o que pensa,
Eu
quero pedir licença,
Pois
mesmo sem português
Neste
livrinho apresento
O
prazê e o sofrimento
De
um poeta camponês.
Eu
nasci aqui no mato,
Vivi
sempre a trabaiá,
Neste
meu pobre recato,
Eu
não pude estudá
No
verdô de minha idade,
Só
tive a felicidade
De
dá um pequeno insaio
In
dois livro do iscritô,
O
famoso professô
Filisberto
de Carvaio.
No
premêro livro havia
Belas
figuras na capa,
E
no começo se lia:
A
pá — O dedo do Papa,
Papa,
pia, dedo, dado,
Pua,
o pote de melado,
Dá-me
o dado, a fera é má
E
tantas coisa bonita,
Qui
o meu coração parpita
Quando
eu pego a rescordá.
Foi
os livro de valô
Mais
maió que vi no mundo,
Apenas
daquele autô
Li
o premêro e o segundo;
Mas,
porém, esta leitura,
Me
tirô da treva escura,
Mostrando
o caminho certo,
Bastante
me protegeu;
Eu
juro que Jesus deu
Sarvação
a Filisberto.
Depois
que os dois livro eu li,
Fiquei
me sintindo bem,
E
ôtras coisinha aprendi
Sem
tê lição de ninguém.
Na
minha pobre linguage,
A
minha lira servage
Canto
o que minha arma sente
E
o meu coração incerra,
As
coisa de minha terra
E
a vida de minha gente.
Poeta
niversitaro,
Poeta
de cademia,
De
rico vocabularo
Cheio
de mitologia,
Tarvez
este meu livrinho
Não
vá recebê carinho,
Nem
lugio e nem istima,
Mas
garanto sê fié
E
não istruí papé
Com
poesia sem rima.
Cheio
de rima e sintindo
Quero
iscrevê meu volume,
Pra
não ficá parecido
Com
a fulô sem perfume;
A
poesia sem rima,
Bastante
me disanima
E
alegria não me dá;
Não
tem sabô a leitura,
Parece
uma noite iscura
Sem
istrela e sem luá.
Se
um dotô me perguntá
Se
o verso sem rima presta,
Calado
eu não vou ficá,
A
minha resposta é esta:
—
Sem a rima, a poesia
Perde
arguma simpatia
E
uma parte do primô;
Não
merece munta parma,
É
como o corpo sem arma
E
o coração sem amô.
Meu
caro amigo poeta,
Qui
faz poesia branca,
Não
me chame de pateta
Por
esta opinião franca.
Nasci
entre a natureza,
Sempre
adorando as beleza
Das
obra do Criadô,
Uvindo
o vento na serva
E
vendo no campo a reva
Pintadinha
de fulô.
Sou
um caboco rocêro,
Sem
letra e sem istrução;
O
meu verso tem o chêro
Da
poêra do sertão;
Vivo
nesta solidade
Bem
destante da cidade
Onde
a ciença guverna.
Tudo
meu é naturá,
Não
sou capaz de gostá
Da
poesia moderna.
Deste
jeito Deus me quis
E
assim eu me sinto bem;
Me
considero feliz
Sem
nunca invejá quem tem
Profundo
conhecimento.
Ou
ligêro como o vento
Ou
divagá como a lesma,
Tudo
sofre a mesma prova,
Vai
batê na fria cova;
Esta
vida é sempre a mesma.
Patativa
do Assaré - (Antônio Gonçalves da Silva)