Não tenho
feito muitos amigos (salvo uma enfermeira da maternidade que gostou de mim e
depois de quase oito meses de Paulinho nascido vem me visitar na folga — hoje
toma chá comigo), e não tenho influenciado nenhuma pessoa. Tomo menos
milk-shake e levo uma vida diária vazia e agitada. Passo o tempo todo pensando
— não raciocinando, não meditando — mas pensando, pensando sem parar. E
aprendendo, não sei o que, mas aprendendo. E com a alma mais sossegada (não
estou totalmente certa). Sempre quis “jogar alto”, mas parece que estou
aprendendo que o jogo alto está numa vida diária pequena, em que uma pessoa se
arrisca muito mais profundamente, com ameaças maiores. Com tudo isso, parece
que estou perdendo um sentimento de grandeza que não veio nunca de livros nem de
influência de pessoas, uma coisa muito minha e que desde pequena deu a tudo,
aos meus olhos, uma verdade que não vejo mais com tanta frequência. Disso tudo,
restam nervos muito sensíveis e uma predisposição séria para ficar calada. Mas
aceito tanto agora. Nem sempre pacificamente, mas a atitude é de aceitar.
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Clarice Lispector, em: Correspondências.
Carta enviada a Fernando Sabino,
05 de outubro de 1953.
Carta enviada a Fernando Sabino,
05 de outubro de 1953.
Não foi ela que escreveu isso não, fui eu...
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