Tudo
isso dói. Mas eu sei que passa, que se está sendo assim é porque deve ser
assim, e virá outro ciclo, depois. Para me dar força, escrevi no espelho do meu
quarto: ‘tá certo que o sonho acabou, mas também não precisa virar pesadelo,
não é?’ É o que estou tentando vivenciar. Certo, muitas ilusões dançaram - mas
eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu faço força para manter algumas
esperanças acesas, como velas. Também não quero dramatizar e fazer dos
problemas reais monstros insolúveis, becos-sem-saída. Nada é muito terrível. Só
viver, não é? A barra mesmo é ter que estar vivo e ter que desdobrar, batalhar
um jeito qualquer de ficar numa boa. O meu tem sido olhar pra dentro, devagar,
ter muito cuidado com cada palavra, com cada movimento, com cada coisa que me
ligue ao de fora. Até que os dois ritmos naturalmente se encaixem outra vez e
passem a fluir.
Caio
Fernando Abreu
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