Robert Gojevic |
No pequeno museu
sentimental
os
fios de cabelo religados
por
laços mínimos de fita
são
tudo que dos montes hoje resta,
visitados
por mim, montes de Vênus.
Apalpo,
acaricio a flora negra,
e
negra continua, nesse branco
total
do tempo extinto
em
que eu, pastor felante, apascentava
caracóis
perfumados, anéis negros,
cobrinhas
passionais, junto do espelho
que
com elas rimava, num clarão.
Os
movimentos vivos no pretérito
enroscam-se
nos fios que me falam
de
perdidos arquejos renascentes
em
beijos que da boca deslizavam
para
o abismo de flores e resinas.
Vou
beijando a memória desses beijos.
Carlos
Drummond de Andrade
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