O que a gente procura muito e sempre não é isto nem aquilo.
É outra coisa.
Se me perguntam que coisa é essa,
não respondo,
porque não é da conta de ninguém o que estou procurando.
Mesmo que quisesse responder, eu não podia.
Não sei o que procuro.
Deve ser por isso mesmo que procuro.
Me chamam de bobo porque vivo olhando aqui e ali, nos ninhos, nos caramujos, nas panelas, nas folhas de bananeiras, nas gretas do muro, nos espaços vazios.
Até agora não encontrei nada.
Ou encontrei coisas que não eram a coisa procurada sem saber, e desejada.
Meu irmão diz que não tenho mesmo jeito,
porque não sinto o prazer dos outros na água do açude, na comida, na manja,
e procuro inventar um prazer que ninguém sentiu ainda.
Ele tem experiência de mato e de cidade,
sabe explorar os mundos, as horas.
Eu tropeço no possível,
e não desisto de fazer a descoberta do que tem dentro da casca do impossível.
Um dia descubro.
Vai ser fácil, existente, de pegar na mão e sentir.
Não sei o que é.
Não imagino forma, cor, tamanho.
Nesse dia vou rir de todos.
Ou não.
A coisa que me espera, não poderei mostrar a ninguém.
Há de ser invisível para todo mundo,
menos para mim,
que de tanto procurar fiquei com merecimento de achar e direito de esconder
Carlos Drummond de Andrade, Em Boitempo
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