Injeta sangue
no
meu coração,
enche-me
até o bordo das veias!
Mete-me
no crânio pensamentos!
Não
vivi até o fim o meu bocado terrestre,
sobre
a terra
não
vivi o meu bocado de amor.
Eu
era gigante de porte,
mas
para que este tamanho?
Para
tal trabalho basta uma polegada.
Com
um toco de pena, eu rabiscava papel,
num
canto do quarto, encolhido,
como
um par de óculos dobrado dentro do estojo.
Mas
tudo que quiserdes eu farei de graça:
esfregar,
lavar,
escovar,
flanar,
montar
guarda.
Posso,
se vos agradar,
servir-vos
de porteiro.
Há,
entre vós, bastante porteiros?
Eu
era um tipo alegre,
mas
que fazer da alegria,
quando
a dor é um rio sem vau?
Em
nossos dias,
se
os dentes vos mostrarem
não
é senão para vos morder
ou
dilacerar.
O
que quer que aconteça,
nas
aflições,
pesar...
Chamai-me!
Um
sujeito engraçado pode ser útil.
Eu
vos proporei charadas, hipérboles
e
alegorias,
malabares
dar-vos-ei
em
versos...
Eu
amei...
mas
é melhor não mexer nisso.
Te
sentes mal?
Vladimir Mayakovsky
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