Eu encontrei o amor.
Repeti para cada passarinho que sobrevoava minha
cabeça
Já que nas asas dos passarinhos os deuses podiam
escutar mais legível, todos os meus agradecimentos.
(um mês)
Prossegui tonta e dopada,
já certa do tamanho do tesouro enviado pelas
montanhas,
incapaz de desviar da presença das árvores,
repeti:
Eu encontrei o amor
Porque na língua das árvores minha alegria
corria segura entre o céu e a terra
(dois meses)
Você já firme no meu coração
Ressaltou a beleza da humanidade
Os pesos de outrora, em forma de grão
As dores do ser, em líquido suave
A solidão da existência - mais milagre, menos encargo.
Então, repeti para todos os amigos
Eu encontrei o amor
Pois a amizade fica mais bela quando em tom de
amor
(três meses)
No quarto mês
Repeti para a ciência
Encontrei o amor
e juntos estacamos em suas metódicas imprecisões
a decadência fisiológica da paixão.
No quinto mês sua vitalidade
Já presa em minha pele
Escorreu inventiva para nossa casa.
Não basta o corpo, não basta a alma, também a
casa como um templo.
Repeti para coisas que tomam formas de panelas,
móveis, espelhos, lençóis
- porções terrenas do amor que não são o amor
mas o dão apoio -
Encontrei o amor.
As engraçadinhas riram de mim e agradeceram.
É, então, o sexto mês.
Repito todos os dias nos seus ouvidos:
Você, meu amor,
Era o sol que me faltava.
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