Largar o cobertor, a cama,
o medo, o terço, o quarto,
largar toda simbologia e religião;
largar o espírito, largar a
alma,
abrir a porta principal e
sair.
Esta é a única vida
e contém inimaginável
beleza e dor.
Já o sol,
as cores da terra
e o ar azul – o céu do dia –
mergulharam até a próxima
aurora;
a noite está radiante
e Deus não existe nem faz
falta.
Tudo é gratuito: as luzes cinéticas
das avenidas,
o vulto ao vento das palmeiras
e a ânsia insaciável do jasmim;
e, sobre todas as coisas, o
eterno silêncio dos espaços
infinitos que
nada dizem, nada querem dizer e
nada jamais precisaram ou precisarão
esclarecer.
Antonio Cicero. A cidade e os livros. Rio de Janeiro: Record, 2002, p.77.
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