Vyacheslav Koretsky |
Desmontar a casa
e
o amor. Despregar
os
sentimentos
das paredes e lençóis.
Recolher
as cortinas
após
a tempestade das conversas.
O
amor não resistiu às balas, pragas,
flores,
e
corpos de intermeio.
Empilhar
livros, quadros, discos e remorsos.
Esperar
o infernal
juízo final do desamor.
Vizinhos
se assustam de manhã
ante
os destroços junto à porta:
-
pareciam se amar tanto!
Houve
um tempo:
uma
casa de campo,
fotos de Veneza,
um
tempo em que sorridente
o
amor aglutinava festas e jantares.
Amou-se
um certo modo de despir-se, de pentear-se.
Amou-se
um sorriso e um certo modo de botar a mesa.
Amou-se
um
certo modo de amar.
No
entanto, o amor bate em retirada
com
suas roupas amassadas, tropas de insultos,
malas
desesperadas, soluços embargados.
Faltou
amor no amor?
Gastou-se
o amor no amor?
Fartou-se
o amor?
No
quarto dos filhos
outra derrota à vista:
bonecos
e brinquedos pendem
numa
colagem de afetos natimortos.
O
amor ruiu e tem pressa de ir embora
envergonhado.
Erguerá
outra casa, o amor?
Escolherá
objetos, morará na praia?
Viajará
na neve e na neblina?
Tonto,
perplexo, sem rumo
um
corpo sai porta afora
com
pedaços de passado na cabeça
e
um impreciso futuro.
No
peito o coração pesa
mais
que uma mala de chumbo.
Affonso
Romano de Sant'Anna - 1937
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