quinta-feira, 27 de agosto de 2009


Eu escrevo com a minha lingua úmida
A palavra milagrosa em seu corpo,
E a palavra abre o segredo de suas carnes
E dá aos meus dentes o mundo quente e vermelho de suas entranhas.
Você sorri,
Você sorri suavemente,
E eu bebo o sangue de que são feitos os seus sorrisos
E deixo que seus olhos brinquem em baixo de minha língua como grandes balas de mel
Antes que rolem pela ingreme ladeira de minha faringe
E iluminem o mundo turvo do meu estômago.
Eu me levanto em seguida
E dou um sonoro arroto.
Limpo o sangue de meus lábios com seus cabelos
E jogo fora o que resta de você,
antes que apodreça.
Depois vou devagar e atento pela floresta,
Pelas ruas,
Pensando no jantar.


ABEL SILVA

Nenhum comentário:

Postar um comentário