De madeira lilás (ninguém me crê)
se fez meu coração.
Espécie escassa de cedro,
pela cor
e porque abriga em seu âmago
a morte que o ameaça.
Madeira dói?
pergunta quem me vê os braços verdes,
os olhos cheios de asas.
Por mim responde a luz do amanhecer
que recobre de escamas esmaltadas
as águas densas que me deram raça
e cantam nas raízes do meu ser.
No crepúsculo estou da ribanceira entre as estrelas
e o chão que me abençoa as nervuras.
Já não faz mal que doa
meu bravo coração de água e madeira.
Thiago de Mello
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