domingo, 20 de maio de 2012




O que é verdadeiramente importante? 
Procuro em meu interior a resposta,
é tão difícil de achar. 

Falsas ideias invadem minha mente, 
acostumada a mascarar o que não entende, 
aturdida em um mundo de ilusões irreais, 
onde a vaidade, o medo, a riqueza,
a violência, o ódio, a indiferença, 
se converteram em heróis adorados,
e não estranho que exista tanta confusão, 
tanto distância de tudo, tanto desilusão! 

Você me pergunta como é possível ser feliz, 
como conviver no meio de tanta mentira, 
cada um responde a si mesmo, 
ainda que para mim, aqui, agora e sempre, 
é proibido chorar sem aprender, 
levantar-me um dia sem saber o que fazer, 
ter medo das minhas recordações, 
Sentir-me só em algum momento

É proibido não sorrir frente aos problemas, 
não lutar pelo que quero, 
abandonar tudo por medo, 
não converter meus sonhos em realidade. 

É proibido não demonstrar o meu amor, 
fazer que você pague minhas dúvidas e meu mau humor, 
inventar coisas que nunca aconteceram, 
lembrar só quando você não está ao meu lado. 
É proibido deixar meus amigos, 
não tentar entender o que nós vivemos, 
só chamar quando preciso deles, 
não ver que nós também somos diferentes. 

É proibido não ser eu mesmo frente as pessoas,
fingir que não me preocupo com elas, 
fazer graça para que se lembrem de mim, 
esquecer os que me amam. 
É proibido não fazer as coisas por mim mesmo, 
não acreditar em meu Deus e achar meu destino,
ter medo da vida e de seus castigos, 
não viver cada dia como se fosse o último. 

É proibido você se diminuir sem me alegrar, 
odiar os momentos que me fizeram amar você, 
tudo porque nossos caminhos deixaram de se cruzar, 
esquecer nosso passado e pagar com nosso presente. 
É proibido não tentar compreender as pessoas,
pensar que suas vidas valem mais que a minha, 
não saber que cada um tem seu caminho e sua felicidade, 
sentir que com sua ausência o mundo acaba. 

É proibido não criar minha história, 
deixar de agradecer minha família por minha vida,
não ter um momento para as pessoas que precisam de mim, 
não entender que o que a vida nos dá, também nos tira.

Autoria: Alfredo Cuervo Barrero 
Tradução: Dolores Rodriguez Barreiro

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¿Qué es lo verdaderamente importante?
Busco en mi interior la respuesta,
y me es tan difícil de encontrar.

Falsas ideas invaden mi mente,
acostumbrada a enmascarar lo que no entiende,
aturdida en un mundo de falsas ilusiones,
donde la vanidad, el miedo, la riqueza,
la violencia, el odio, la indiferencia,
se convierten en adorados héroes.

Me preguntas cómo se puede ser feliz,
cómo entre tanta mentira se puede vivir,
es cada uno quien se tiene que responder,
aunque para mí, aquí, ahora y para siempre:
queda prohibido llorar sin aprender,
levantarme un día sin saber qué hacer,
tener miedo a mis recuerdos,
sentirme sólo alguna vez.

Queda prohibido no sonreír a los problemas,
no luchar por lo que quiero,
abandonarlo todo por tener miedo,
no convertir en realidad mis sueños.

Queda prohibido no demostrarte mi amor,
hacer que pagues mis dudas y mi mal humor,
inventarme cosas que nunca ocurrieron,
recordarte sólo cuando no te tengo.

Queda prohibido dejar a mis amigos,
no intentar comprender lo que vivimos,
llamarles sólo cuando les necesito,
no ver que también nosotros somos distintos.

Queda prohibido no ser yo ante la gente,
fingir ante las personas que no me importan,
hacerme el gracioso con tal de que me recuerden,
olvidar a toda la gente que me quiere.

Queda prohibido no hacer las cosas por mí mismo,
no creer en mi dios y hacer mi destino,
tener miedo a la vida y a sus castigos,
no vivir cada día como si fuera un último suspiro.

Queda prohibido echarte de menos sin alegrarme,
olvidar los momentos que me hicieron quererte,
todo porque nuestros caminos han dejado de abrazarse,
olvidar nuestro pasado y pagarlo con nuestro presente.

Queda prohibido no intentar comprender a las personas,
pensar que sus vidas valen más que la mía,
no saber que cada uno tiene su camino y su dicha,
pensar que con su falta el mundo se termina.

Queda prohibido no crear mi historia,
dejar de dar las gracias a mi familia por mi vida,
no tener un momento para la gente que me necesita,
no comprender que lo que la vida nos da, también nos lo quita.
Alfredo Cuervo Barrero

sexta-feira, 18 de maio de 2012



Dois amantes ditosos fazem um só pão,
uma só gota de lua na erva,
deixam andando duas sombras que se reúnem,
deixam um só sol vazio numa cama.

De todas as verdades escolheram o dia.
não se ataram com fios senão com um aroma,
e não despedaçaram a paz nem as palavras.
A ventura é uma torre transparente.

O ar, o vinho vão com os dois amantes,
a noite lhes oferta suas ditosas pétalas,
têm direito a todos os cravos.

Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem muitas vezes enquanto vivem.
têm da natureza a eternidade.

Pablo Neruda

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O homem, as viagens


     O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua.

Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte — ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro — diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto — é isto?
idem
idem
idem.

O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto
repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
do solar a col-
onizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.


Carlos Drummond de Andrade
 

sábado, 5 de maio de 2012



Salvador Rojo

A vida é muito bonita,
basta um beijo
e a delicada engrenagem movimenta-se,
uma necessidade cósmica nos protege.


Adélia Prado, em O Pelicano

Ânsia


Não me deixem tranquilo
não me guardem sossego
eu quero a ânsia da onda
o eterno rebentar da espuma

As horas são-me escassas:
dai-me o tempo
ainda que o não mereça
que eu quero
ter outra vez
idades que nunca tive
para ser sempre
eu e a vida
nesta dança desencontrada
como se de corpos
tivéssemos trocado
para morrer vivendo


Mia Couto, em Raiz de Orvalho e outros poemas

Meu barro


Sofro de lonjuras.
Insisto em buscar o amor atrás do morro.
meu pai bem me disse:
o tamanho do buraco do peito
é a medida dos enlaçamentos.
Tudo começa no berço.
No colo da mão carinhosa
que cavuca na infância o jardim.
Se as panelas são quentes e fartas
Conte que haverá festa

Mesmo para a vida dura.