quinta-feira, 27 de junho de 2013




yelena.bryksenkova


Toda poesia é
o in _verso da realidade
ou
un _i_ verso do caos.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Homens de concreto




a extinção do devemos?
a celebração do queremos?
a negação do podemos?
a reação do sonhamos?
a inanição do contamos?
a coroação do compramos?

ser ou ter?

Já não ensinam nem no bar?

quarta-feira, 19 de junho de 2013



a vida varia
o que valia menos
passa a valer mais
quando desvaria


Paulo Leminski

quarta-feira, 12 de junho de 2013





As classes dominantes de todas as sociedades vêem na estabilidade das formas uma espécie de emblema da estabilidade de seu poder. Por isso, que as classes dominantes temem o novo de forma geral.


Paulo Leminski



Ainda vão me matar numa rua. 
Quando descobrirem, 
principalmente, 
que faço parte dessa gente 
que pensa que a rua 
é a parte principal da cidade.

Paulo Leminski

terça-feira, 11 de junho de 2013

Cogito





eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.

Torquato Neto


quarta-feira, 5 de junho de 2013

 
Sergei Aparin


Nosso Profe. de latim, Mestre Aristeu, era magro
e do Piauí. 
Falou que estava cansado de genitivos,
dativos, ablativos e doutras desinências. 
Gostaria agora de escrever um livro. 
Usaria um idioma de larvas incendiadas.
 Epa! O profe. falseou-ciciou
um colega. Idioma de larvas incendiadas! 
Mestre Aristeu continuou: quisera uma linguagem que
obedecesse a desordem das falas infantis do que
as ordens gramaticais. 
Desfazer o normal há de ser uma norma.

Manoel de Barros, "Memórias Inventadas: A Segunda Infância"




segunda-feira, 3 de junho de 2013

Palavras aladas


Nathalie Daoust


Os juramentos que nos juramos
Entrelaçados naquela cama
Seriam traídos se lembrados hoje
Eram palavras aladas
Faladas não para ficar
Mas, encantadas, voar
Faziam parte das carícias
Que por lá sopramos
Brisas afrodisíacas ao pé do ouvido
Jamais contratos
Esqueçamo-las
Pois dentre os atos da língua
Houve outros mais convincentes
E ardentes sobre os lençóis
Que esses, em futuras noites,
Em vislumbres de lembranças
Sempre nos deslumbrem.

Antonio Cícero


sábado, 1 de junho de 2013

Contranarciso

Yuko Simizi
em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas

o outro
que há em mim
é você
você
e você

assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós

[...]

Paulo Leminski.