sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Agora é que são elas


lee.misook


Um dia, sonhei com ele. No sonho, era o dono de um bar onde eu chegava e perguntava:
- Tem cerveja?
E ele respondia.
- Não.
- Tem certeza?
- Também não.

 Paulo Leminski

sábado, 14 de dezembro de 2013

Sem você




Sem você uma noite
Esqueci de fechar a porta.

Sem você uma noite
Fiquei presa no transito dos sonhos.

Sem você uma noite
a geladeira desarrumou só de raiva.

Para suportar uma noite sem você
Me  agarrei a toda poesia.

Sem você uma noite
Poemas por toda casa se espalharam.

ENTÃO,

Não vou morrer sem você uma noite
Só vou virar poeta.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Samba Canção



Tantos poemas que perdi.
Tantos que ouvi, de graça,
pelo telefone – taí,,
eu fiz tudo pra você gostar,
fui mulher vulgar,
meia-bruxa, meia-fera,
risinho modernista
arranhando na garganta,
malandra, bicha, 
bem viada, vândala,
talvez maquiavélica,
e um dia emburrei-me,
vali-me de mesuras
(era comércio, avara, 
embora um pouco burra, 
porque inteligente me punha
logo rubra, ou ao contrário, cara
pálida que desconhece
o próprio cor-de-rosa,
e tantas fiz, talvez
querendo a glória, a outra
cena à luz de spots,
talvez apenas teu carinho,
mas tantas, tantas fiz...

Ana Cristina César

domingo, 1 de dezembro de 2013



Numa quarta-feira, em meados de outubro de 2003, um homem de barba, alto, ligeiramente desalinhado um sobretudo escuro, com lenço no pescoço e um tipo de chapéu maleável  que os jogadores de críquete costumavam usar, entrou na galera Tate portando uma sacola de papel.
Banksy (era ele mesmo) passou direto pelos seguranças, provavelmente mais preocupados com o que os visitantes pudessem levar para fora do que com o que chegavam trazendo, e seguiu seu caminho desimpedido até a Sala 7, no segundo andar. Era um local bem escolhido que ele deve ter sondado antes. Pois essa não é uma parte da galeria na qual você simplesmente adentra: não há uma entrada direta a partir de um corredor principal, e é preciso passar por uma outra seção para chegar até ali. Um local geralmente muito tranquilo, que permite a passagem entre espaço menores, em vez de ter que percorrer apenas um grande salão.
Tendo escolhido sua área na galeria, ele teve que escolher uma parte da parede. Encontrou espaço suficiente entre uma paisagem bucólica do século XVIII e a porta que conduzia a Sala 8, e tomou conta daquele pedaço. Pós a sacola de papel no chão, apanhou um quadro da sacola e depois simplesmente pendurou o quadro lá. Foi um gesto bastante corajoso; a Tate não se sentiria muito feliz em descobrir que alguém estava roubando não os seus quadros, mas os espaços nas paredes. Talvez as experiências de seus anos iniciais, quando pintava com spray as ruas de Bristol, tenha ajudado a acalmar os nervos, pois ele não deu nenhuma mostra de pânico quando pôs a mão na sacola outra vez e tirou um impressionante papel branco no qual estava a legenda de sua obra. Afixou-o adequadamente ao lado. E depois foi embora (...) O quadro foi intitulado Crimewatch UK Has Ruined The Countryside for All of Us (A vigilância contra o crime no Reno Unido arruinou o interior para todos nós), a legenda era um dos primeiros entre os muitos pronunciamentos de Banksy.


Em Banksy: por trás das paredes. Will Ellsworth-Jones 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Desidratar o ciúme ou 0.8


 
Cathy Daley

O método é simples.
Recorra à declaração mundial da existência do ser
Seja feliz. Não haverá espaço para a dúvida.
Seja livre. Saberá a importância do outro ser também.
Seja companheiro. Terá como prêmio abraços, sorrisos, calda de chocolate e cafuné na cabeça.
Seja honesto.  Seus monstrinhos serão adestrados.
Quem sabe um dia sejam tão fofos para alguém quanto seu bichinho de estimação.
Seja carinhoso. O calor sossega tempestades.
Seja compreensível. Seu barco é só um barco no mar.
Seja fiel. O amor tem ultra poderes.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A fábrica do poema



lee.misook
sonho o poema de arquitetura ideal
cuja própria nata de cimento encaixa palavra por
palavra,
tornei-me perito em extrair faíscas das britas
e leite das pedras.
acordo.
e o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
acordo.
o prédio, pedra e cal, esvoaça
como um leve papel solto à mercê do vento
e evola-se, cinza de um corpo esvaído
de qualquer sentido.
acordo,
e o poema-miragem se desfaz
desconstruído como se nunca houvera sido.
acordo!
os olhos chumbados
pelo mingau das almas e os ouvidos moucos,
assim é que saio dos sucessivos sonos:
vão-se os anéis de fumo de ópio
e ficam-me os dedos estarrecidos.
metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros
sumidos no sorvedouro.
não deve adiantar grande coisa
permanecer à espreita no topo fantasma
da torre de vigia.
nem a simulação de se afundar no sono.
nem dormir deveras.
pois a questão-chave é:
sob que máscara retornará o recalcado?
sob que máscara retornará?
sob que máscara?



Waly Salomão


terça-feira, 19 de novembro de 2013

Priez pour elle






Venha morte
acender as velas na intenção de bem iluminar sua volta às estrelas.
Sorria para ela.
Chegou a hora de segurar sua mão.
Agradecimentos já foram feitos:
Bala de Mel,
Miçanga,
Roupas de boneca.
Todos estendidos da memória da infância.
É hora do voo.
É hora da anciã se enfiar no infinito.
Não se preocupem.
Esse é o bom adeus.
Priez pour elle.