sexta-feira, 18 de dezembro de 2015




Saber dizer adeus é:
sentir essa dor afiada.
Aceitar a lágrima em forma de punhal.
Ser essa tristeza tão áspera.
É preciso saber dizer adeus
para viver.
Adeus, meu menino.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2015


Guardaram meu afeto
em uma caixa branca
para sempre inacessível.

Sou obrigada a atravessar

a  solidão de minha dor
Suportar a caixa lacrada.
Cancelar o amor.

Se o tempo 
é o amparo dos desolados
Acreditar nas janelas
que a vida insiste
em abrir.
Acreditar que não há nenhum
terreno assolado
que a vida 
não persista em agir.

Palipalan

sábado, 5 de dezembro de 2015

lee.jin.ju

Quando o coração de amor
é obrigado a calar,
parece que todas as imagens
do mundo pegaram silêncio.
Examino minhas lágrimas,
estão cheias de vazios.
Não ver é dor.
Não ouvir é dor.
Não tocar é dor.
Não cheirar é dor.
Não provar é dor.
Se meus sentidos restritos
compreendessem bem
nossa condição de infinito
talvez doesse
menos essa absoluta ausência.
Não seria tão extensa
essa ferida.
Toda flor seria um bom consolo.
Para sobreviver
Manoel explica:
É preciso amarrar
o tempo no poste.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015


Lá onde pegaríamos sol
o homem cava um buraco.
Planta uma amoreira.
A chuva é forte.
Cresce tudo no jardim
mas nada que se faça
altera seu destino.
Sempre é dor
a água dos meus olhos.
Debruçada nesse buraco
sinto o vazio.
O silêncio a dor ensino.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015


Só dói 
quando eu respiro.
Quando alguém
não encara a dor
detém o próprio
curso da vida.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

2.6


desembarquei 
no alvoroço do querer bem.
sem guia
com pouca água
os óculos escuros
esquecidos na prateleira.

não consultei nenhum oráculo
nem estava interessada em chegar 
a algum lugar.

quando era dia,
eu disse, sim
durante a tarde
eu disse, sim
anoitecia
eu disse, sim.

era o sim
sem ciência.

o fim.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015


A única forma
que conheço 
de enfrentar a vida
e a morte
é ter o coração aberto.
Sinto muito.
é a forma também
de fazer da vida 
e da morte
uma experiência intensa.

domingo, 29 de novembro de 2015

Tristeza

Estado no qual diferentes partes do corpo e da alma desenvolvem ao mesmo tempo inclinações para a dor e o cansaço. Os sintomas típicos incluem pernas fatigadas inadequadas para dança ou percursos longos. Cabeça pesada com pouco discernimento
do tempo. Ardência na região peitoral capaz de afetar
o sono e o sonho. Boca seca inclinada ao silêncio.
Ventre em nó.
Tratamento.
Os meios terapêuticos e mais viáveis para a tristeza são:
em qualquer hora do dia ou da noite
recorrer às lágrimas quantas vezes for necessário.
Administrar o tempo com paciência e confiança.
Se notar que os sintomas são severos, persistentes e comprometem gravemente o estado da alma,
recomenda-se

prescrever altas doses de colo e compaixão.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015


Depois de novembro 
a vida não será mais a mesma.
Não há chuva 
que cale o seu silêncio
nem desejo que inverta
sua partida.
É fácil confundir
meu pensamento 
com o chorar.
Tua ausência
toma conta de mim
como se fosse
uma cratera.
Duas semanas
e não mudaste nada.
Permaneces 
essa estrela intocada 
que me cobre a vigília
e avisa:
não faremos juntos
um mês 
um ano
uma vida.
Seguiremos sozinhos
sem cantar.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Vou roubar o seu afeto



Perto do fim
o sequestro.
de repente
tudo silencioso 
e vazio.
Não estará ali o amor
onde se possa alimentá-lo 
nos rios do seio.
A porta foi fechada
Não há como abri-la.
Cada peça do armário removida.
Terás que seguir sozinho
de pezinhos descalços.
Terás que carregar
dois quilos
trezentos e setenta gramas
de amor ausente em seu colo.
Enfrentar essa dor 
diante de tantos nãos.

sábado, 21 de novembro de 2015

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Nove e vinte



Esse dia
Essa perversa noite de raios
Ao invés da festa
O medo
Ao invés do choro
A máquina
Ao invés do colo
A separação.



segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Em revista



Antes da ligação cair
já que faltam poucos dias para mais esse ano virar
pergunto se você viu o sol nascer 
ou qualquer outro objeto

inclusive não identificado
no céu da janela de 2014.
Interessa saber
do tempo reservado ao banho de chuva
e do tempo desperdiçado ao lado das laranjas, pêssegos e caquis.
Abusou dos abraços e das declarações de amor?
você sabe que a qualquer momento toca a sineta
pode ser a convocação do absoluto.
Por isso
antes da ligação cair
parece importante contar os grãozinhos do mar
dedicar-se com absoluta preguiça ao vento.
Quanto tempo passou tentando imitar a risada de outra pessoa?
Vale devanear,
sem problemas.
Meditou sonhos?
Corrompeu regras?
Partiu em aventura com o pequenininho?
Andou em círculos em torno do seu próprio coração?


Vence na vida quem diz sim.

Agora que o ano chegou


Agora que o ano chegou
aproveite para dizer 
para esse ano
que de janeiro se espera prorrogação.

que fevereiro abuse da purpurina
aliás todos os homens devem vestir saias e usar batom.

já março não precisa acelerar tanto
uma cerveja na ponta do copo
um último mergulho no verão do seu mar
ou no verão de qualquer água.
o importante é março vir com muita água.

ai abril delicado
convocar a lista das intenções do ano novo.
é verdade,
dizem que o ano começa depois do carnaval
mas aqui nesse poema
aproveite para dizer para esse ano
que seu tempo é lento.
antes de dar volta
nos sete quarteirões do seu desejo
não dá para vestir os sapatos.

em maio, nem vem que não tem
é o mês das nuvens.
entre afazeres e compromissos
tem o assunto das nuvens.

junho, sim, um pouco de engano
um tanto de reflexão
muito de doação
afinal, é o mês do meio.

julho o calor foi sabotado
é preciso muito abraço.

aproveite para dizer
para esse ano
que nenhum feriado em agosto
é um desgosto.

em setembro
passa da hora de ser diferente
amar tudo que é tipo de gente.

em outubro
diga ao ano
na temperatura média das emoções
levar em conta a idade do coração
sombras derrubam sementes
quando o inverno é longo
sombras derrubam sombras
quando a primavera está madura.

em novembro
aprender,
entender,
e
fazer saber
que
"Encheram a terra de fronteiras, carregaram o céu de bandeiras, mas só há duas nações – a dos vivos e dos mortos".*

para em dezembro
em fim
estar nu
como veio.

* Roubinho: Mia Couto, em "Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra"




Sua vontade 
de sobreviver

me agrada.

2.1


O amor tem que ser para já
eu quero ele aqui 
em um arco-íris
medo
dúvida
posse
são perguntas dos homens.
raios
abacates
alegria
são perguntas de deus.
depois que você chegou
tudo ficou mais perigoso.




Sirvo
não servo
quem vem
e não vê
         pode ficar.

A nova técnica de si



nos quarenta
a razão tonta
intenta

desviar da certeza
e da verdade.