segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Em revista



Antes da ligação cair
já que faltam poucos dias para mais esse ano virar
pergunto se você viu o sol nascer 
ou qualquer outro objeto

inclusive não identificado
no céu da janela de 2014.
Interessa saber
do tempo reservado ao banho de chuva
e do tempo desperdiçado ao lado das laranjas, pêssegos e caquis.
Abusou dos abraços e das declarações de amor?
você sabe que a qualquer momento toca a sineta
pode ser a convocação do absoluto.
Por isso
antes da ligação cair
parece importante contar os grãozinhos do mar
dedicar-se com absoluta preguiça ao vento.
Quanto tempo passou tentando imitar a risada de outra pessoa?
Vale devanear,
sem problemas.
Meditou sonhos?
Corrompeu regras?
Partiu em aventura com o pequenininho?
Andou em círculos em torno do seu próprio coração?


Vence na vida quem diz sim.

Agora que o ano chegou


Agora que o ano chegou
aproveite para dizer 
para esse ano
que de janeiro se espera prorrogação.

que fevereiro abuse da purpurina
aliás todos os homens devem vestir saias e usar batom.

já março não precisa acelerar tanto
uma cerveja na ponta do copo
um último mergulho no verão do seu mar
ou no verão de qualquer água.
o importante é março vir com muita água.

ai abril delicado
convocar a lista das intenções do ano novo.
é verdade,
dizem que o ano começa depois do carnaval
mas aqui nesse poema
aproveite para dizer para esse ano
que seu tempo é lento.
antes de dar volta
nos sete quarteirões do seu desejo
não dá para vestir os sapatos.

em maio, nem vem que não tem
é o mês das nuvens.
entre afazeres e compromissos
tem o assunto das nuvens.

junho, sim, um pouco de engano
um tanto de reflexão
muito de doação
afinal, é o mês do meio.

julho o calor foi sabotado
é preciso muito abraço.

aproveite para dizer
para esse ano
que nenhum feriado em agosto
é um desgosto.

em setembro
passa da hora de ser diferente
amar tudo que é tipo de gente.

em outubro
diga ao ano
na temperatura média das emoções
levar em conta a idade do coração
sombras derrubam sementes
quando o inverno é longo
sombras derrubam sombras
quando a primavera está madura.

em novembro
aprender,
entender,
e
fazer saber
que
"Encheram a terra de fronteiras, carregaram o céu de bandeiras, mas só há duas nações – a dos vivos e dos mortos".*

para em dezembro
em fim
estar nu
como veio.

* Roubinho: Mia Couto, em "Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra"




Sua vontade 
de sobreviver

me agrada.

2.1


O amor tem que ser para já
eu quero ele aqui 
em um arco-íris
medo
dúvida
posse
são perguntas dos homens.
raios
abacates
alegria
são perguntas de deus.
depois que você chegou
tudo ficou mais perigoso.




Sirvo
não servo
quem vem
e não vê
         pode ficar.

A nova técnica de si



nos quarenta
a razão tonta
intenta

desviar da certeza
e da verdade.