quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.
Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

Florbela Espanca

terça-feira, 27 de outubro de 2009


O Rio

Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas nos céus,
refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranqüilas.

Manuel Bandeira

domingo, 25 de outubro de 2009


Necrológio dos desiludidos do amor


Os desiludidos do amor estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas,
tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Não olhe para frente
olha para mim
as árvores
e
os postes têm sua existência.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009



Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.


Adélia Prado

A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá
mas não pode medir seus encantos.
A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem
nos encantos de um sabiá.
Quem acumula muita informação
perde o condão de adivinhar: divinare
Os sabiás divinam.

Manoel de Barros

domingo, 18 de outubro de 2009

O que eu sinto eu não ajo.
O que ajo não penso.
O que penso não sinto.
Do que sei sou ignorante.
Do que sinto não ignoro.
Não me entendo e ajo como se me entendesse.

Clarice Lispector
Lucien Clergue
Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Não pode haver ausência de boca nas palavras:
nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas se não desejo contar nada, faço poesia.
Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.
A inércia é o meu ato principal.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
O artista é um erro da natureza.
Beethoven foi um erro perfeito.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Por pudor sou impuro.
Não preciso do fim para chegar.
De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra
— Como um lápis numa península.
Do lugar onde estou já fui embora.

Manoel de Barros


Casca

Franz, abre a porta.
Me deixe enlouquecer.
Seu pai está deitado no sofá da sala.
Ele pode está morto. Não sei.
Eu que desejo a morte do meu,
talvez.
Preciso arrumar o quarto para escrever.
Começo pelas gavetas, papéis ou roupas? Indefinido?
Começou o horário de verão.
Faz um ano que rasguei o projeto de férias em alguma cidade aguada de cachoeira.
Minha garganta está seca.
Você bem disse que eu não levantasse da cama,
mas estava com medo,
tive sonhos acelerados.
Acordei com a mandíbula pressionada.
Fui vagar na rua, encher o pulmão de fumaça.
Me diga, quando eu vou morrer?
Franz, me alegra a vida,
especialmente quando vem acompanhada de molho de tomate e macarrão.
Os legumes e frutas dispostos no interior do ônibus também são lindos.
Reparou como meus olhos são castanhos? São como mel? Não?Tudo bem.
Tenho mel na prateleira que adoce seus sulcos.
Estou com muito sono hoje.
Não consigo te escutar perfeitamente do outro lado da porta.
Abra a janela ao menos.
Esta não é a hora dos insetos voadores.
Espere, vou apagar meus olhos alguns instantes.
É que a louça está acumulando na pia da cozinha e esta é a medida de minha loucura.
Ou diversão, depende se é carnaval.
Também me agrada continuar a conversa,
mas seu pai me fez chorar.
Meus olhos estão ardendo.
Não consegui ler os versos sem falsear a voz.
Me comprazi com a finura de seus nervos e o espetáculo de seu gênio.
Um perfeito canalha, como aquele que me deu meu sangue.
Que herança.
Por isso, te perdôo por deixar-me sozinha com ele na sala.
Caso esteja realmente morto,
saiba que não o servi nem ao menos chá.
A não ser que o sal de minhas lágrimas tenha gerado alguma espécie de alergia fatal.
Se o matei, não foi proposital.
Ele já estava morto, como o meu está desde um tempo muito amargo de pronunciar.
A cor dos meus lençóis são verde e violeta.
As violetas estão tão floridas na soleira da janela.
Abre a janela.
Prometo que não vou me jogar, tem macarrão para a ceia.
Franz, viver precipita.
Procura o sentido no dicionário.
Queda, caída, descida rápida.
Extrema velocidade.
Grande pressão.
Afobação.
Ou quem sabe Deus tenha intenções químicas e resolveu separar
nossa matéria em forma de sedimento
do líquido onde se encontra dissolvido nossa existência.
Muito mais inteligente do que eu, você deve saber
ou fingir que sabe.
Adiantou em uma hora o relógio?
Morto faz isso?
Uma hora que passou e não vivi.
A única hora do ano que não envelheci uma hora.
Eu sei. O poema não acabou.
Não fique nervoso comigo,
tenho obrigações a cumprir ainda neste dia.
Preciso circular os anúncios no jornal.
Revisar os textos.
E urgentemente diminuir a pilha de louça na pia da cozinha.
Evitar baratas, sou péssima em matá-las.

sábado, 17 de outubro de 2009

A missa do Morro dos Prazeres



Sursum corda.
Ao alto os corações.
Subir,
com toda alegoria em cima,
subir,
subir a parada
que a lua cheia é a hóstia consagrada na vala negra aberta,
subir,
que o foguetório anuncia a chegada do carregamento,
subir,
querubim errante transformista,
subir,
o incensório da esquadrilha da fumaça-mãe,
subir,
como se inalasse a neve do Monte Fuji,
subir,
o visgo da jaca já gruda na pele,
subir,
salvam pipocos da chefia do movimento,
subir,
soou a hora da elevação,
subir que o morro é batizado
com a graça de Morro dos Prazeres
- topograficamente situado no Rio de Janeiro.
Subir o morro
que a missa católica do asfalto
- sem os paramentos e as jaculatórias do latim da infância -
pouco difere de reunião de condomínio,
sacrifício sem entusiasmós.


Waly Salomão

Brinde no banquete das musas

Poesia, marulho e náusea,
poesia, canção suicida,
poesia, que recomeças
de outro mundo, noutra vida.

Deixaste-nos mais famintos,
poesia, comida estranha,
se nenhum pão te equivale:
a mosca deglute a aranha.

Poesia, sobre os princípios
e os vagos dons do universo:
em teu regaço incestuoso
o belo câncer do verso.

Azul, em chama, o telúrio
reintegra a essência do poeta
e o que é perdido se salba...
Poesia, morte secreta.

Carlos Drummond de Andrade
Hoje descobri algo muito importante: o momento. A vivência do momento é o que me interessa como expressão viva, é a anti-arte na realidade, pois o eterno não conta. Não me refiro ao ato, que vai numa sucessão de momentos mas ao momento mesmo: um dia de sol, azul no inverno do Rio, deu-me mais vivência inesperada, uma subia emoção: não me interessa a reprodução destes momentos nem em palavras nem em “obras”, mas o momento ou a verificação futura dele por outrem. Ah! Ambição suprema. Fazer com que verificássemos o momento quando é grande, uma vivência importante apesar de fugaz, e não fazê-la meio para uma “obra” ou outra coisa qualquer.

9 de agosto de 1966

Hélio Oiticica

Grande Sertão: Veredas

Revirei meu fraseado. Quis falar em coração fiel e sentidas coisas. Poetagem. Mas era o que eu sincero queria - como em fala de livros, o senhor sabe: de bel-ver, bel-fazer e bel-amar. O que uma mocinha assim governa, sem precisão de armas e golpes, guardada macia e fina em sua casa- grande, sorrindo santinha no alto da alpendra... E ela queria saber tudo de mim, mais ainda me perguntava. - "Donde é mesmo que o senhor é, donde?" Se sorria. E eu não medi meus alforjes".

João Guimarães Rosa

quarta-feira, 14 de outubro de 2009


Ele sabe e por isso esconde sua garganta profunda dos meus olhos
Tranca sua alma mistério de qualquer tentativa bruta de aproximação.
Tanto mais grito, mais resvala, nubla.
Faço gelatina de frutas e espero o tempo de flor.
Se eu não partir ou morrer quem sabe a gente ainda se confunde.
Está aqui meu endereço. Se encontrar... agradeço.
Mesmo assim tomo as providências necessárias para desfazer
as trolhas,
pedras
e derrapadas.
Afinal, antes do fim do mundo não pretendo voltar,
mesmo que seque suas palavras sem o pão da minha boca em você.
Chegou a hora do descanso,
deixar esquecer meus pés na solitude imensa do cerrado.
Desidratar toda espécie de desejo.
Desidratar você do meu coração.
Até meu coração virar
e
apagar.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Tracey Emin


Gigante descansa depois da refeição.
Sequestrou bem rápido a retina da nova mulher que de início esperneou,
mas logo soube divisar a maré das horas inevitáveis e profundas.
No exílio foi possível trocar de calendário, de calcinha e abdômen.
Soberbo, ela não chorou.
Só trouxe suas coisas aos bocados e se instalou no meu armário e ossos.
Trocou o cheiro dos meus sabonetes.

Pela manhã não espera que eu a lamba. Já conta sonhos estranhos.
Desenha minhas narinas do gosto acre de seu hálito vespertino.
Sugere aos meus ouvidos devaneios caramelizados de suas horas de escuridão.
E suas mãos sempre frias nas minhas,
nossas mãos incrivelmente nuas e inocentes agora cativas dessa nova vida.
Inteiras e reféns
E cálice
Onde sou gigante.


segunda-feira, 12 de outubro de 2009



Nesta vida,
pode-se aprender
três coisas
de uma criança:
estar sempre
alegre,
nunca
ficar inativo
e chorar
com força
por tudo
o que se quer.


Paulo Leminski

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Estranheza do Mundo

Olho a árvore e indago:
está aí para quê?
O mundo é sem sentido
quanto mais vasto é.
Esta pedra esta folha
este mar sem tamanho
fecham-se em si,
me repelem.
Pervago em um mundo estranho.
Mas em meio à estranheza do mundo,
descubro uma nova beleza
com que me deslumbro:
é teu doce sorriso
é tua pele macia
são teus olhos brilhando
é essa tua alegria.
Olho a árvore e já
não pergunto "para quê"?
A estranheza do mundo
se dissipa em você.

Ferreira Gullar

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Segundo salto



No segundo salto continuo a gritar.
A voz sai grave
quando antes doía no estômago.
Fonoaudiologias da vida permitem que alguns sobrevivam
e tenham pão recheado.

Ora sim ora também sim
tenho absoluta incerteza do traçado definido para o plano de voo
mas gosto das paisagens que minha escrivaninha aponta.
Tem cheiro de gente nova
jeito de coisa velha
promessa de formas diversas de fiar no mundo.

Vontade de dormir, não escapo.
Há lá encantamentos nas fendas da terra
que no ponto de ônibus é difícil visar os perfis.
Cinco horas calado e parado, de quase todos se exige
Em poucos desce como vitamina.
Quebrem tudo, será meu grito contido
Olhem e duvidem
Escrevam na porta de minha última casa

Mas estes são os meus três segundos de sal.
Se tem sol,
prefiro semear com a aldeia desejos de fim de mundo,
que as bandidas aprendam também.
Parece que da minha janela se vê mais vasto
Adoro este cheiro de respiração.
Estranhos, quais são seus passos?
Darei mel de minhas vísceras
a quem me convencer a dormir todos os dias em seus pensamentos
sou madeira fiel às verticais miragens,
minha sina é o chão.
Por mais que a terra escureça,

não esquecer da esperança como concepção de futuro.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Amar uma vez e sempre

Nelson Rodrigues

Kátia Vevel, Rio - A rigor, a sua tragédia não existe: ou só existe de uma maneira muito relativa. O mais importante, o fundamental, você tem: ama e é amado. E se quer obter um mínimo de felicidade, parta, sempre, do seguinte princípio: o verdadeiro amor não pode ser integralmente feliz. Você sabe qual é o grande erro da maioria absoluta das mulheres? Ei-lo: - achar que o fato de amar implica, obrigatoriamente, a felicidade. Quem ama, pensa que vai ser felicíssimo; e estranha qualquer espécie de sofrimento. Ora, a vida ensina, justamente, que duas criaturas que se amam, sofrem, fatalmente. Não por culpa de um ou de outro; mas em conseqüência do próprio sentimento. É exato que os amores têm seus êxtases deslumbrantes, momentos perfeitos, musicais etc. etc. mas eu disse "momentos" e não 24 horas de cada dia.
Quando uma mulher apaixonada se queixa, eu tenho vontade de fazer-lhe esta pergunta: "não lhe basta amar? Você quer, ainda por cima, ser feliz?". Pois o destino quando concede a graça inefável do amor, subtrai uma série de outras coisas. Antes de mais nada, o sossego. Quem ama, não tem sossego, perdeu-o, para sempre. A intensidade de qualquer amor é, por si mesma, trágica. Você, minha doce amiga, escreve: "tenho ciúme de tudo e de todos". E isso já implica num sofrimento incessante e atroz. Mas, acontece uma coisa com os sofrimentos do amor: eles se tornam um hábito, se fazem necessários e, no fim de certo tempo, se incorporam à nossa vida, participam dela, de maneira integral. Sofrer pela criatura amada - permita que lhe diga - não é um mal, é quase um bem. Você conhece tristezas mais lindas, mais inspiradoras, do que as tristezas do amor? Não, não há minha querida amiga. Uma pessoa sensata diria: "são tristezas", ao que eu replicaria: "Mas de amor!". E tristezas desta natureza valem qualquer alegria.Vejamos, porém, concretamente, o seu caso. Você, há tempos, teve uma lesão pulmonar. Não sei se a chamada "peste branca" espanta alguém. A mim, não. Nem doença de espécie alguma. Se há amor, qualquer espécie de enfermidade, ainda as mais atrozes, torna mais doce e mais fortes os vínculos que unem duas criaturas. E mais vale uma lesão pulmonar do que uma lesão de caráter, uma lesão de alma. As únicas doenças que realmente, me assustam são as morais. Durante o seu tratamento, você ficou em uma tal prostração que, digamos, se desinteressou da vida. Foi um mal, cara amiga. Se lhe faltava saúde, sobrava-lhe, no entanto, uma série de outros dons, para merecer a vida e dignificá-la. Mais tarde, quando você ficou boa, encontrou-se acidentalmente, com aquele que seria o seu bem amado. Um olhar, um brevíssimo flirt e este resultado maravilhoso: um amor recíproco e definitivo. Mas sucede que havia uma outra se interpondo entre vocês dois. Uma outra que não fazia o seu bem-amado feliz; que não o compreendia; que não tentava um esforço pela sua felicidade. Ele tinha companhia e era solitário. Ora, não há pior solidão do que estar mal acompanhado. Mais vale o deserto do Saara. Assim, ele encontrou, em você, toda a ânsia, toda a sede de amar. E você o retribuiu, apaixonadamente. Então, começou o que você chama o seu martírio. Você sofria e isso o espantava. Se você tivesse experiência de vida, saberia que o sofrimento, maior ou menor, é inseparável do amor. Impossível amar sem sofrer. E quando não há motivos concretos, a pessoa os inventa. O amoroso, ou amorosa, é, por excelência, fabricante de fantasmas, fabricante de possibilidades sinistras. Chega-se a sofrer por hipóteses as mais remotas, as mais inverossímeis, as mais absurdas. Imaginemos o marido de uma senhora honestíssima. Ele se põe a pensar: - "e se ela, um dia, me trair?". É isto que eu chamo sofrer por hipótese. Você sofreria, Kátia, se a situação fosse outra, e outras as circunstâncias. Contente-se com momentos de felicidade, não queria ser feliz as 24 horas do dia. Não sonhe com uma felicidade que não é compatível com a nossa condição humana.Você me perguntou se deve contar a criatura amada o seu ciúme. Acho que não. E explicarei por quê. Na minha opinião, a grande sabedoria, em amor, consiste em ter o ciúme e escondê-lo, ou , então, dar ao ciúme uma exteriorização muito pouco agressiva, muito pouco truculenta. Ouça, Kátia: não acredite que o seu bem-amado a traia. Mesmo que ele quisesse, não o conseguiria. Ninguém gosta de duas pessoas ao mesmo tempo. Assim como ele é o único homem para você, você é, para ele, a única mulher na face da Terra.

Rosa Tumultuada


sábado, 3 de outubro de 2009







Pérola do mar

Ter você no abraço é como bala de mel,
aveluda o assoalho íngreme e irregular da vida
Tem mistérios que apenas sua existência inaugura:
uma soma com dom de multiplicações.
Só com você desenho sereias orelhudas.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Desaniversário

Um brinde à ausência da celebração dos cinco anos
De nossa carne que não se embaralha mais na fúria de nossas formas tão desiguais de estar no mundo.
No dia de tantas horas, foi a lua que assanhou a memória.
Antes de seu aviso não coube a temperatura de você
Percorri distancias e ideias onde não te vi em nenhum instante
Mas a danada em sua forma plena enche o sangue de hormônio.
Vou beber a madrugada.
Amanhã termino esse poema em construção.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Diz-me o filósofo alemão
“Quanto mais inteligente a mulher, tanto mais se afasta o homem."

Pondera a francesa em meus olhos
“os homens não gostam de mulher-homem, nem de mulher culta, nem de mulher que sabe o que quer: ousadia demais, cultura, inteligência, caráter, assustam-nos”

Socorro, que sina.

Valha-me graça que sou ignorante total ao amar certinho os homens.

Peguei então o bonde para assim tentar andar mais lento.
Tinha homem pendurado no trilho.
Saltei e resolvi andar a pé.
meu passo foi longo
ultrapassou a cadência do apito

E este frio que dorme na solidão dos meus ossos?
Pensamentos que não me deixam ficar só
precipitados nas caldeiras da vida
cozinhando, cozinhado...

Gringo cantando samba é de virar gargalhada.
Hoje recebi duas lágrimas de menina
Espero ter dado as palavras certas.
a vida dói.