terça-feira, 27 de julho de 2010

Flor

Canto do Buriti.
A moça abre a mala.
Levanta a tampa.
Salta a pesada carga que trouxe:
Poeiras que não são aquelas,
Securas de outras formas,
Lembranças que lhe travam a fala.

Fecha a mala,
antes tira de lá apenas um teso - o medo.

Uruçuí.
Senta numa pedra acerca de uma praia do Parnaíba.
Anda o rio,
Passa o agricultor de soja.
Desloca a primeira nuvem de sua visão.
Esta no semi-árido.
Tem tempo.

São Raimundo Nonato.
Hora de se religar ao elementar.
Comida que dá do cerrado ao chapadão.
Arte que recobre seu mais largo sorriso.
Amor que inspira toda a existência
seja de pedra, seja em vão.
Encontra ali,
Intocado,
o patrimônio da integridade de sua humanidade

Balsas.
Chora, vomita, grita, sente calor
Está tudo atravessando sua pele
Bebe em rosa e em doce.
Já brilha.

Colinas do Tocantins.
Outeiro das saudades.

Imperatriz.
Abre a mala na última parada antes de retornar
Salta a pesada carga que vem:
A comunhão com os homens e suas realizações
As verdades que apenas o chão sabe nos dizer
A Coragem que o viver exige das mulheres.

Fecha a mala,
Antes guarda lá apenas um teso - si mesma.

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