segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sair

Largar o cobertor, a cama, 
o medo, o terço, o quarto, 
largar toda simbologia e religião;
largar o espírito, largar a alma, 
abrir a porta principal e sair. 
Esta é a única vida
e contém inimaginável
beleza e dor. 
Já o sol,
as cores da terra 
e o ar azul – o céu do dia –
mergulharam até a próxima aurora; 
a noite está radiante
e Deus não existe nem faz falta. 
Tudo é gratuito: as luzes cinéticas das avenidas,
o vulto ao vento das palmeiras
e a ânsia insaciável do jasmim;
e, sobre todas as coisas, o
eterno silêncio dos espaços infinitos que
nada dizem, nada querem dizer e
nada jamais precisaram ou precisarão esclarecer.

Antonio Cicero. A cidade e os livros. Rio de Janeiro: Record, 2002, p.77.

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