domingo, 23 de setembro de 2012

Esta gente



Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco 

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis 

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome 

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada 

Meu canto se renova
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo 

Sophia de Mello Breyner Andresen

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