Entre a coisa pública
e
a privada
achou-se
a República
assentada.
Uns
queriam privar
da
coisa pública,
outros
queriam provar
da
privada,
conquanto,
é claro,
que,
na provação,
a
privada, publicamente,
parecesse
perfumada.
Dessa
luta intestina
entre
a gula pública e a privada
a
República
acabou
desarranjada
e
já ninguém sabia
quando
era a empresa pública
privada
pública
ou
pública
privada.
Assim
ia a rês pública: avacalhada
uma
rês pública: charqueada
uma
rês pública, publicamente
corneada,
que por mais
que
lhe batessem na cangalha
mais
vivia escangalhada.
Qual
o jeito?
Submetê-la
a um jejum?
Ou
dar purgante à esganada
que
embora a prisão de ventre
tinha
a pança inflacionada?
O
que fazer?
Privatizar
a privada
onde
estão todos
publicamente
assentados?
Ou
publicar, de uma penada,
que
a coisa pública
se
deixar de ser privada
pode
ser recuperada?
—
Sim, é preciso sanear,
desinfetar
a coisa pública,
limpar
a verba malversada,
dar
descarga na privada.
Enfim,
acabar com a alquimia
de
empresas públicas-privadas
que
querem ver suas fezes
em
ouro alheio transformadas.
SANT'ANNA, Affonso Romano de. A poesia possível. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
Poema integrante da série Aprendizagem de História
Nenhum comentário:
Postar um comentário