domingo, 6 de outubro de 2013

O Sol ou 0.6


Eu encontrei o amor.

Repeti para cada passarinho que sobrevoava minha cabeça

Já que nas asas dos passarinhos os deuses podiam escutar mais legível, todos os meus agradecimentos.

(um mês)


Prossegui tonta e dopada,

já certa do tamanho do tesouro enviado pelas montanhas,

incapaz de desviar da presença das árvores, repeti:

Eu encontrei o amor

Porque na língua das árvores minha alegria corria segura entre o céu e a terra

(dois meses)


Você já firme no meu coração

Ressaltou a beleza da humanidade

Os pesos de outrora, em forma de grão

As dores do ser, em líquido suave

A solidão da existência - mais milagre, menos encargo.

Então, repeti para todos os amigos

Eu encontrei o amor

Pois a amizade fica mais bela quando em tom de amor

(três meses)


No quarto mês

Repeti para a ciência

Encontrei o amor

e juntos estacamos em suas metódicas imprecisões

a decadência fisiológica da paixão.


No quinto mês sua vitalidade

Já presa em minha pele

Escorreu inventiva para nossa casa.

Não basta o corpo, não basta a alma, também a casa como um templo.

Repeti para coisas que tomam formas de panelas, móveis, espelhos, lençóis

- porções terrenas do amor que não são o amor

mas o dão apoio -

Encontrei o amor.

As engraçadinhas riram de mim e agradeceram.


É, então, o sexto mês.

Repito todos os dias nos seus ouvidos:

Você, meu amor,

Era o sol que me faltava.

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