quarta-feira, 30 de setembro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
além muito
da varanda
em vernal vagueio.
Mas se trouxe vastidão de mundo
não esqueceu de trazer acompanhada
vagarezas solitárias de vivências pessoais viandantes.
Decisão difícil deixar irem os tão poucos pandas que ainda há.
Quem me dera conhecer todas as palavras em suas infinitas combinações
para assim não violentar
tão vivamente
versos que vêem desesperados em voltar velejar pelos seus vasos.
Hoje peguei a vigésima segunda letra de vítima.
Vai ver foi por vontade de voar acompanhada.
Veja, voltear com versarias visões minhas na sua tela,
vou não.
Ventou nas verdades que eu tinha visto.
Só se for para vicejar suas vértebras.
Você não deixa.
Vale mais vaguear vivendo.
Ser poeta, a cada dia te nasce uma vírgula no ventre
Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.
Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuro não te aperto
Mas tua boca está presente, adorando.
Adorando.
Nunca pensei ter entre as coxas um deus.
Carlos Drummond de Andrade
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.
Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuro não te aperto
Mas tua boca está presente, adorando.
Adorando.
Nunca pensei ter entre as coxas um deus.
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Os Degraus
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...
Mario Quintana - Baú de Espantos
domingo, 27 de setembro de 2009
Primavera sempre vem
Pensamentos de folhagem nova avisam aos aflitos que primavera sempre vem.
Se é dia de chuva cinza,
vem supondo água mais presente do que derrame.
Está ali mesmo na morte de quem não partiu
lembrando-nos da necessidade da vida de quem ficou
– saciar a fome, produzir calor, aplacar o medo.
Em cada idade de um jeito e em sua precisão.
Se é de despedida a hora do corpo,
vem no sorriso moço da filha da filha.
Vem encurtando a distância entre outono e verão,
escalando janela em gomo de flor que tinta a retina na promessa do novo companheiro.
Em nosso passo apoucado esquecemos no frio que primavera tem precisão de existência.
Nosso olhar que é miudinho,
guardado nos ponteiros do relógio de bolso.
Olhamos o tempo em linha,
quando seu feitio é de roda
O tempo...
tem história de espalhar bum
É matéria de virar galáxia
Na gira, difícil é aceitar nosso destino de estrela.
Se é dia de chuva cinza,
vem supondo água mais presente do que derrame.
Está ali mesmo na morte de quem não partiu
lembrando-nos da necessidade da vida de quem ficou
– saciar a fome, produzir calor, aplacar o medo.
Em cada idade de um jeito e em sua precisão.
Se é de despedida a hora do corpo,
vem no sorriso moço da filha da filha.
Vem encurtando a distância entre outono e verão,
escalando janela em gomo de flor que tinta a retina na promessa do novo companheiro.
Em nosso passo apoucado esquecemos no frio que primavera tem precisão de existência.
Nosso olhar que é miudinho,
guardado nos ponteiros do relógio de bolso.
Olhamos o tempo em linha,
quando seu feitio é de roda
O tempo...
tem história de espalhar bum
É matéria de virar galáxia
Na gira, difícil é aceitar nosso destino de estrela.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Eu queria tanto
eu queria tanto
ser
um poeta maldito
a
massa sofrendo
enquanto
eu profundo medito
eu
queria tanto
ser
um poeta social
rosto
queimado
pelo
hálito das multidões
em
vez
olha
eu aqui
pondo
sal
nesta
sopa rala
que
mal vai dar para dois.
Paulo Leminski
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Aysso
Em você dei para variar.
Vagar entre as horas viradas escutando poemês com calda de fome desesperada.
Aprendi o quão comprido é a intenção das palavras que saem meladas em estopim de despedida.
Pois sim,
Peguei apreço pelas despedidas depois que na feira dos vivedouros despojei os pretéritos de meus bolsos.
Ai que desembestou a madrugada na gira, convencendo meus travesseiros a fazer patuscada no tambor do peito.
Desembaraços são como pedrinhas miudinhas indicando os caminhos que dão no não sei onde.
Acordei para os léxicos: Ramerrão. Preito. Rebramiam.
Delícias de enrolar os pensamentos. Foi isto que este encontro me deu.
Iluminura da vida. Um olho de gargalhadear as vontades.
Já sabia do sortido d'alma, só não sabia cantar.
Agora sei?
Trinta e três é bonito para nascer.
Vagar entre as horas viradas escutando poemês com calda de fome desesperada.
Aprendi o quão comprido é a intenção das palavras que saem meladas em estopim de despedida.
Pois sim,
Peguei apreço pelas despedidas depois que na feira dos vivedouros despojei os pretéritos de meus bolsos.
Ai que desembestou a madrugada na gira, convencendo meus travesseiros a fazer patuscada no tambor do peito.
Desembaraços são como pedrinhas miudinhas indicando os caminhos que dão no não sei onde.
Acordei para os léxicos: Ramerrão. Preito. Rebramiam.
Delícias de enrolar os pensamentos. Foi isto que este encontro me deu.
Iluminura da vida. Um olho de gargalhadear as vontades.
Já sabia do sortido d'alma, só não sabia cantar.
Agora sei?
Trinta e três é bonito para nascer.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
O Animal da Floresta
De madeira lilás (ninguém me crê)
se fez meu coração.
Espécie escassa de cedro,
pela cor
e porque abriga em seu âmago
a morte que o ameaça.
Madeira dói?
pergunta quem me vê os braços verdes,
os olhos cheios de asas.
Por mim responde a luz do amanhecer
que recobre de escamas esmaltadas
as águas densas que me deram raça
e cantam nas raízes do meu ser.
No crepúsculo estou da ribanceira entre as estrelas
e o chão que me abençoa as nervuras.
Já não faz mal que doa
meu bravo coração de água e madeira.
Thiago de Mello
se fez meu coração.
Espécie escassa de cedro,
pela cor
e porque abriga em seu âmago
a morte que o ameaça.
Madeira dói?
pergunta quem me vê os braços verdes,
os olhos cheios de asas.
Por mim responde a luz do amanhecer
que recobre de escamas esmaltadas
as águas densas que me deram raça
e cantam nas raízes do meu ser.
No crepúsculo estou da ribanceira entre as estrelas
e o chão que me abençoa as nervuras.
Já não faz mal que doa
meu bravo coração de água e madeira.
Thiago de Mello
Saudades
Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
Pablo Neruda
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
Pablo Neruda
domingo, 20 de setembro de 2009
Navega
Você ilha.
Igual sabor de terra e de mar.
Rochedo escarpado de difícil subida.
Tantas plantas não qualificadas pelas esquadras colonizadoras do meu querer.
Algumas tenras, convidativas de minha escrita curiosa.
Tantas outras de urtiga.
E os bichos que saem de suas fendas...
São de qual tempo?
Não estão nos romances que li.
Viscosos na pontinha de seus rabos
Meu tato repele, rebate, rejeita,
Minha pele acolhe, aceita, fascina.
Quatro modos de pisar os cristais do seu chão:
Indicativo. Subjuntivo. Imperativo. Gerundial.
Quinze variações de passos.
Faltei ou dormi - não recordo -
o dia em que se aprende a escolher o calçado certo.
No mergulho mais visagens.
Variações de tom de luz, de pressão atmosférica, de temperatura,
de oxigênio dissolvido.
E nenhuma carta náutica.
Imita os mais bravos com suas estrelas.
Ondas de escalar e deslizar ora pedem aos músculos mais açúcar
Marasmos de acalmar e ressecar ora avisam que não adianta içar a vela.
Qual é a maré?
Pergunta pra lua, pro pescador, pro berbigão, pro cientista.
Marés, mistérios de imersão e submersão.
E o silêncio azul, verde, violeta, cinza, marrom,
negro de suas águas.
Achar bonito, uma das formas de te entender.
Igual sabor de terra e de mar.
Rochedo escarpado de difícil subida.
Tantas plantas não qualificadas pelas esquadras colonizadoras do meu querer.
Algumas tenras, convidativas de minha escrita curiosa.
Tantas outras de urtiga.
E os bichos que saem de suas fendas...
São de qual tempo?
Não estão nos romances que li.
Viscosos na pontinha de seus rabos
Meu tato repele, rebate, rejeita,
Minha pele acolhe, aceita, fascina.
Quatro modos de pisar os cristais do seu chão:
Indicativo. Subjuntivo. Imperativo. Gerundial.
Quinze variações de passos.
Faltei ou dormi - não recordo -
o dia em que se aprende a escolher o calçado certo.
No mergulho mais visagens.
Variações de tom de luz, de pressão atmosférica, de temperatura,
de oxigênio dissolvido.
E nenhuma carta náutica.
Imita os mais bravos com suas estrelas.
Ondas de escalar e deslizar ora pedem aos músculos mais açúcar
Marasmos de acalmar e ressecar ora avisam que não adianta içar a vela.
Qual é a maré?
Pergunta pra lua, pro pescador, pro berbigão, pro cientista.
Marés, mistérios de imersão e submersão.
E o silêncio azul, verde, violeta, cinza, marrom,
negro de suas águas.
Achar bonito, uma das formas de te entender.
sábado, 19 de setembro de 2009
Poema Perto do Fim
O que dói nela é o nada
que a vida faz do amor.
Sopro a flauta encantada
e não dá nenhum som.
Levo uma pena leve
de não ter sido bom.
E no coração, neve.
Thiago de Mello
Estiagam
A intuição gritou:
Poesia, Desajuste, Querer bem.
A pele respondeu:
Calor, Movimento, Mistérios.
Então, retomou-se o batuque em compasso desconhecido.
Tambor em cor: tum-verde; tum-violeta; tum-tum-tom.
Desvirou-se e passou a andar desarmada entre as laranjeiras.
Estendeu seus domínios até onde vai a terra de todos os homens.
Reconciliou-se com eles e convidou um para brincar.
Achando que era um deus-passarinho
Entregou-lhe bolinhas de papel, deu suas lágrimas, suas horas escuras.
Recebeu o silêncio, a desvontade e palavras bem enferrujadas:
Só desejo que você seja livre.
Comporte-se direitinho.
Não fica no sereno.
O aferidor de encantamentos fora lançado das mãos masculinas de encontro à sua alma feminina.
Sangrou-lhe os brios.
Não foi o não: Seu tempo é seu tempo. Os contos são seus. Sua vontade do amanhã você que constrói.
Doeu ver o desejo masculino de objetivação feminina ferir um deus-passarinho.
Ter eu e você, só homem e mulher simplesmente.
A mulher que não quer ser vassala do homem está longe de evitar este encargo.
Tenta ser o objeto de seu desejo,
Procura fazê-lo instrumento de seu prazer.
Em tempos de colheita,
abole-se a intenção de competição.
Ela se compraz em viver plenamente sua condição de mulher
Ele vive sua condição de homem
Ambos alimentam de mão dados um deus-passarinho.
Pena que o tempo de hoje se faz de mãos apartadas e de pouca água.
Poesia, Desajuste, Querer bem.
A pele respondeu:
Calor, Movimento, Mistérios.
Então, retomou-se o batuque em compasso desconhecido.
Tambor em cor: tum-verde; tum-violeta; tum-tum-tom.
Desvirou-se e passou a andar desarmada entre as laranjeiras.
Estendeu seus domínios até onde vai a terra de todos os homens.
Reconciliou-se com eles e convidou um para brincar.
Achando que era um deus-passarinho
Entregou-lhe bolinhas de papel, deu suas lágrimas, suas horas escuras.
Recebeu o silêncio, a desvontade e palavras bem enferrujadas:
Só desejo que você seja livre.
Comporte-se direitinho.
Não fica no sereno.
O aferidor de encantamentos fora lançado das mãos masculinas de encontro à sua alma feminina.
Sangrou-lhe os brios.
Não foi o não: Seu tempo é seu tempo. Os contos são seus. Sua vontade do amanhã você que constrói.
Doeu ver o desejo masculino de objetivação feminina ferir um deus-passarinho.
Ter eu e você, só homem e mulher simplesmente.
A mulher que não quer ser vassala do homem está longe de evitar este encargo.
Tenta ser o objeto de seu desejo,
Procura fazê-lo instrumento de seu prazer.
Em tempos de colheita,
abole-se a intenção de competição.
Ela se compraz em viver plenamente sua condição de mulher
Ele vive sua condição de homem
Ambos alimentam de mão dados um deus-passarinho.
Pena que o tempo de hoje se faz de mãos apartadas e de pouca água.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Três cantos de despedida
Acabou a batucada. Meu desejo caiu de mingua.
Ao invés de lamber os relevos de seu peito,
vou beber dos contornos do meu coração violeta.
Vou cavar mais fundo nas terras do meu jardim
e dar mel das ruínas de sua desvontade.
Seu meio tom é canção de menina
Meus versos são de mulher que quer
Sente
Pronuncia.
Diante da figura parada do homem,
Desvio trinta mil passos para continuar dançando.
Ele quer brincar de Rapunzel.
Parado na torre
Eu quero a Terra do Nunca.
Não vou insistir.
Vou calar Maria no seu ouvido.
Quando é época de estiagem em uma das beiradas
amor não pega,
não se voa fora da asa
nunca chega manhã de setembro.
Ao invés de lamber os relevos de seu peito,
vou beber dos contornos do meu coração violeta.
Vou cavar mais fundo nas terras do meu jardim
e dar mel das ruínas de sua desvontade.
Seu meio tom é canção de menina
Meus versos são de mulher que quer
Sente
Pronuncia.
Diante da figura parada do homem,
Desvio trinta mil passos para continuar dançando.
Ele quer brincar de Rapunzel.
Parado na torre
Eu quero a Terra do Nunca.
Não vou insistir.
Vou calar Maria no seu ouvido.
Quando é época de estiagem em uma das beiradas
amor não pega,
não se voa fora da asa
nunca chega manhã de setembro.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Quem dirá que não vivo satisfeito! Eu danço!
Dança a poeira no vendaval.
Raios solares balançam na poeira.
Calor saltita pela praça
pressa
apertos
automóveis
bamboleios
Pinchos ariscos de gritos
Bondes sapateando nos trilhos...
A moral não é roupa diária!
Sou bom só nos domingos e dias-santos!
Só nas meias o dia-santo é quotidiano!
Vida
arame
crimes
quidam
cama e pança!
Viva a dança!
Dança viva!
Vivedouro de alegria!
Eu danço.
Mãos e pés, músculos, cérebro...
Muito de indústria me fiz careca,
Dei um salão aos meus pensamentos!
Tudo gira,
Tudo vira,
Tudo salta,
Samba,
Valsa,
Canta,
Ri!
Quem foi que disse que não vivo satisfeito?
EU DANÇO!
Mário de Andrade
Quando
Arnora Faelminkkine |
Exige a vontade do sim quando o gesto é apartado:
Beija minha boca invisível.
Aguarda minhas mãos em suas coxas.
Mergulha nas águas escuras do nosso desejo.
Com fome você é aquele que mais reclama.
Reclama a poesia atrás da porta cerrada.
Vem poesia, se esgueira entre as fendas dos atóis do meu coração.
Vem pela máquina,
vem de torpedo,
vem na goela distante desta mulher.
Como bom homem que é preceitua:
você objeto,
Objeto da minha desvontade.
Não insista, eu sou o senhor dos ponteiros do tempo.
Mas, gauche, ela trocou de pele em luz violeta.
Ela quer ver a mulher derrotada brincar de fim do mundo com o homem derrotado.
Escuta os tons que vibram do seu chamado,
Escuta.
São de cor de passarinho.
Se você não quer levantar para nadar atrás de tartaruga
Ela entende,
Só não diga que a deseja livre.
Ela já é.
Seu elemento é a água.
Seu número o três
Sua carta, estrela.
Seduzida pelos sais de sua carne.
Ela insiste em se emaranhar em algum canto da mesma cidade.
Cativada,
não cativa.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Sugestão
Antes que venham ventos e te levem do peito o amor — este tão belo amor,
Que deu grandeza e graça à tua vida —, faze dele, agora, enquanto é tempo,
uma cidade eterna — e nela habita.
Uma cidade, sim.
Edificada nas nuvens, não — no chão por onde vais,
e alicerçada, fundo, nos teus dias,
de jeito assim que dentro dela caiba
o mundo inteiro: as árvores, as crianças, o mar e o sol, a noite e os passarinhos,
e sobretudo caibas tu, inteiro:
o que te suja, o que te transfigura,
teus pecados mortais, tuas bravuras,
tudo afinal o que te faz viver
e mais o tudo que, vivendo, fazes.
Ventos do mundo sopram; quando sopram,
ai, vão varrendo, vão, vão carregando
e desfazendo tudo o que de humano
existe erguido e porventura grande,
mas frágil, mas finito como as dores,
porque ainda não ficando — qual bandeira
feita de sangue, sonho, barro e cântico —
no próprio coração da eternidade.
Pois de cântico e barro, sonho e sangue,
faze de teu amor uma cidade,
agora, enquanto é tempo.
Uma cidade
onde possas cantar quando o teu peito
parecer, a ti mesmo, ermo de cânticos;
onde possas brincar sempre que as praças
que percorrias, dono de inocências,
já se mostrarem murchas, de gangorras
recobertas de musgo, ou quando as relvas
da vida, outrora suaves a teus pés,
brandas e verdes já não se vergarem
à brisa das manhãs.
Uma cidade
onde possas achar, rútila e doce,
a aurora que na treva dissipaste;
onde possas andar como uma criança
indiferente a rumos: os caminhos,
gêmeos todos ali, te levarão
a uma aventura só — macia, mansa —
e hás de ser sempre um homem caminhando
ao encontro da amada, a já bem-vinda
mas, porque amada, segue a cada instante
chegando — como noiva para as bodas.
Dono do amor, és servo. Pois é dele
que o teu destino flui, doce de mando:
A menos que este amor, conquanto grande,
seja incompleto. Falte-lhe talvez
um espaço, em teu chão, para cravar
os fundos alicerces da cidade.
Ai de um amor assim, vergado ao vínculo
de tão amargo fado: o de albatroz
nascido para inaugurar caminhos
no campo azul do céu e que, entretanto,
no momento de alçar-se para a viagem,
descobre, com terror, que não tem asas.
Ai de um pássaro assim, tão malfadado
a dissipar no campo exíguo e escuro
onde residem répteis: o que trouxe
no bico e na alma — para dar ao céu.
É tempo. Faze
tua cidade eterna, e nela habita:
antes que venham ventos, e te levem
do peito o amor — este tão belo amor
que dá grandeza e graça à tua vida.
Thiago de Mello
Que deu grandeza e graça à tua vida —, faze dele, agora, enquanto é tempo,
uma cidade eterna — e nela habita.
Uma cidade, sim.
Edificada nas nuvens, não — no chão por onde vais,
e alicerçada, fundo, nos teus dias,
de jeito assim que dentro dela caiba
o mundo inteiro: as árvores, as crianças, o mar e o sol, a noite e os passarinhos,
e sobretudo caibas tu, inteiro:
o que te suja, o que te transfigura,
teus pecados mortais, tuas bravuras,
tudo afinal o que te faz viver
e mais o tudo que, vivendo, fazes.
Ventos do mundo sopram; quando sopram,
ai, vão varrendo, vão, vão carregando
e desfazendo tudo o que de humano
existe erguido e porventura grande,
mas frágil, mas finito como as dores,
porque ainda não ficando — qual bandeira
feita de sangue, sonho, barro e cântico —
no próprio coração da eternidade.
Pois de cântico e barro, sonho e sangue,
faze de teu amor uma cidade,
agora, enquanto é tempo.
Uma cidade
onde possas cantar quando o teu peito
parecer, a ti mesmo, ermo de cânticos;
onde possas brincar sempre que as praças
que percorrias, dono de inocências,
já se mostrarem murchas, de gangorras
recobertas de musgo, ou quando as relvas
da vida, outrora suaves a teus pés,
brandas e verdes já não se vergarem
à brisa das manhãs.
Uma cidade
onde possas achar, rútila e doce,
a aurora que na treva dissipaste;
onde possas andar como uma criança
indiferente a rumos: os caminhos,
gêmeos todos ali, te levarão
a uma aventura só — macia, mansa —
e hás de ser sempre um homem caminhando
ao encontro da amada, a já bem-vinda
mas, porque amada, segue a cada instante
chegando — como noiva para as bodas.
Dono do amor, és servo. Pois é dele
que o teu destino flui, doce de mando:
A menos que este amor, conquanto grande,
seja incompleto. Falte-lhe talvez
um espaço, em teu chão, para cravar
os fundos alicerces da cidade.
Ai de um amor assim, vergado ao vínculo
de tão amargo fado: o de albatroz
nascido para inaugurar caminhos
no campo azul do céu e que, entretanto,
no momento de alçar-se para a viagem,
descobre, com terror, que não tem asas.
Ai de um pássaro assim, tão malfadado
a dissipar no campo exíguo e escuro
onde residem répteis: o que trouxe
no bico e na alma — para dar ao céu.
É tempo. Faze
tua cidade eterna, e nela habita:
antes que venham ventos, e te levem
do peito o amor — este tão belo amor
que dá grandeza e graça à tua vida.
Thiago de Mello
domingo, 13 de setembro de 2009
Dois cantos de despedida
Explica cupido como é a
despedida de suas mãos frias e insensíveis
sobre
as águas de minha pele invisível.
Como
é a ausência das palavras silenciosas
companheiras
e de amor.
O
gesto sempre esteve em minha face
agitado
entre as veredas de minhas ideias.
Visitastes
minha cama mais em sonho,
meus
travesseiros não roubaram suas histórias de menino.
Seus
olhos continuarão opacos aos meus olhos
mesmo
se miraram juntos Manoel, Carlos, Adélia, Clarice.
Ao
amor me pedem coragem.
Preciso
dormir, trabalhar, arrumar as gavetas.
Se
dói? Não sei.
Aprendi
de forma bruta a gostar de quem gosta de mim.
Hoje
mansa refaço sua mala,
Te
despacho para o fundo do caderninho.
Se
dói? Dói pouco.
Castelinhos
de areia só matam personagem de conto de fada.
O
mundo é sortido.
Poesia
é desdobrável.
sou...
também eu
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Sempre que se começa a ter amor a alguém,
no ramerrão,
o amor pega e cresce é porque, de certo jeito,
a gente quer que isso seja,
e vai, na ideia,
querendo e ajudando,
mas quando é destino dado,
maior que o miúdo,
a gente ama inteiriço fatal,
carecendo de querer,
e é um só facear com as surpresas.
Amor desse,
cresce primeiro;
brotar é depois.
Guimarães Rosa
no ramerrão,
o amor pega e cresce é porque, de certo jeito,
a gente quer que isso seja,
e vai, na ideia,
querendo e ajudando,
mas quando é destino dado,
maior que o miúdo,
a gente ama inteiriço fatal,
carecendo de querer,
e é um só facear com as surpresas.
Amor desse,
cresce primeiro;
brotar é depois.
Guimarães Rosa
A natureza do eterno
Que flor é esta?
finge
que morre
e
quando menos se espera
é
flor indo,
flor
vindo,
floresta
em festa
que
flor é esta
que
sempre resta?
Alice
Ruiz
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Mãos dadas
Seu tempo é espaço.
O meu, mãos dadas.
Seu tempo tem tempo.
Atrasado, meu tempo.
Seu tempo descansa.
Meu tempo desperta
alvorada,
noite,
madrugada.
Exige a pena.
Você sabia que poesia te vira as horas?
Entre o leitor e o ferreiro há uma chama.
Em um aquece.
No outro arde.
É assim que dói.
Em ambos acende,
queima mais na mão do ferreiro.
Mas no tempo das baleias aprende-se,
não se vive sem dor,
leitor ou ferreiro.
Dor não é amargura.
Dor não é amargura.
Dor não é amargura.
Dói dar ao mundo uma criança.
Dói tutu quentinho de mãe.
Dói a mordida do amante.
Meu tempo dói em dó
em ré
em mim
em faz
em só
lá
em si
Este tempo tem sido tempo de voar fora da asa
Sabia que dói?
Se faltar luz
e a máquina não acender
você terá sido só um sonho.
O meu, mãos dadas.
Seu tempo tem tempo.
Atrasado, meu tempo.
Seu tempo descansa.
Meu tempo desperta
alvorada,
noite,
madrugada.
Exige a pena.
Você sabia que poesia te vira as horas?
Entre o leitor e o ferreiro há uma chama.
Em um aquece.
No outro arde.
É assim que dói.
Em ambos acende,
queima mais na mão do ferreiro.
Mas no tempo das baleias aprende-se,
não se vive sem dor,
leitor ou ferreiro.
Dor não é amargura.
Dor não é amargura.
Dor não é amargura.
Dói dar ao mundo uma criança.
Dói tutu quentinho de mãe.
Dói a mordida do amante.
Meu tempo dói em dó
em ré
em mim
em faz
em só
lá
em si
Este tempo tem sido tempo de voar fora da asa
Sabia que dói?
Se faltar luz
e a máquina não acender
você terá sido só um sonho.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
O poeta
Vão dizer que não existo propriamente dito.
Que sou um ente de sílabas.
Vão dizer que tenho vocação de ninguém.
Meu pai costumava me alertar:
Quem acha bonito e pode passar a vida a ouvir o som das palavras
Ou é ninguém ou é zoró.
Eu teria treze anos.
De tarde fui olhar a Cordilheira dos Andes que se perdia nos longes da Bolívia
E veio uma iluminura em mim.
Foi a primeira iluminura.
Daí botei meu primeiro verso:
Aquele morro bem que entorta a bunda da paisagem.
Mostrei a obra pra minha mãe.
A mãe falou:
Agora você vai ter que assumir as suas irresponsabilidades.
Eu assumi:
entrei no mundo das imagens.
Manoel de Barros
Que sou um ente de sílabas.
Vão dizer que tenho vocação de ninguém.
Meu pai costumava me alertar:
Quem acha bonito e pode passar a vida a ouvir o som das palavras
Ou é ninguém ou é zoró.
Eu teria treze anos.
De tarde fui olhar a Cordilheira dos Andes que se perdia nos longes da Bolívia
E veio uma iluminura em mim.
Foi a primeira iluminura.
Daí botei meu primeiro verso:
Aquele morro bem que entorta a bunda da paisagem.
Mostrei a obra pra minha mãe.
A mãe falou:
Agora você vai ter que assumir as suas irresponsabilidades.
Eu assumi:
entrei no mundo das imagens.
Manoel de Barros
Brad Holland |
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.
Manoel de Barros
Tenho um Aferidor de Encantamentos
A uma açucena encostada no rosto de uma criança
O meu Aferidor deu nota dez.
Ao nomezinho de Deus no bico de uma sabiá
O Aferidor deu nota dez.
A uma fuga de Bach que vi nos olhos de uma criatura
O Aferidor deu nota vinte
Mas a um homem sozinho no fim de uma estrada
sentado nas pedras de suas próprias ruínas
O meu Aferidor deu DESENCANTO.
(O mundo é sortido, Senhor, como dizia meu pai)
Manoel de Barros
A uma açucena encostada no rosto de uma criança
O meu Aferidor deu nota dez.
Ao nomezinho de Deus no bico de uma sabiá
O Aferidor deu nota dez.
A uma fuga de Bach que vi nos olhos de uma criatura
O Aferidor deu nota vinte
Mas a um homem sozinho no fim de uma estrada
sentado nas pedras de suas próprias ruínas
O meu Aferidor deu DESENCANTO.
(O mundo é sortido, Senhor, como dizia meu pai)
Manoel de Barros
Erê
O que faço com a outra cientista?
Ela
ficou apertada entre o coração e o pulmão.
Espremer
minhas frutas
e
te hidratar de meus sucos, dói.
Não
sou pantaneira.
Meu
osso é apressado.
Desembestado
meu tempo.
Você
disse que é alvorada.
Não
sei se posso te dar ainda meus sucos
se
você não vem salgar a terra com suas mãos.
Meus
poemas são feitos de matéria e ideia.
Quem
espera sou eu,
na
primeira noite já vi seu erê.
o
meu logo quis brincar com o seu
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Brinquedo sério
Eu
só brinco quando é muito sério
é
muito sério ser o teu brinquedo
Não
tem mistério
não
tem segredo
quando
a gente brinca
quando
a coisa é séria
quando
o teu limite é tão perfeito
quando
ser brinquedo pode ser tão sério
Pode
haver um dia em que a poesia mude de endereço
deixe
apenas tédio
mas
enquanto isso
vem
brincar comigo
vamos
até onde
possa
ser só riso
possa
ir tão longe
possa
ser tão lindo
pode
ser brinquedo
pode
ser tão sério
Alice
Ruiz
Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases.
Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira.
Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo:
há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.
Manoel de Barros
CANTIGA DE MALAZARTE
Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,
ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo nada que tenha visto,
Todas as coisas se gravam para sempre na minha cachola.
Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
Destelho as casas penduradas na terra,
Tiro o cheiro dos corpos das meninas sonhando.
Desloco as consciências,
A rua estala com os meus passos,
E ando nos quatro cantos da vida.
Consolo o herói vagabundo,
glorifico soldado vencido,
Não posso amar ninguém porque sou o amor,
Tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos
E a pedir desculpas ao mendigo.
Sou o espírito que assiste à Criação
E que bole em todas as almas que encontra.
Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo,
Nada me fixa nos caminhos do mundo.
Murilo Mendes
ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo nada que tenha visto,
Todas as coisas se gravam para sempre na minha cachola.
Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
Destelho as casas penduradas na terra,
Tiro o cheiro dos corpos das meninas sonhando.
Desloco as consciências,
A rua estala com os meus passos,
E ando nos quatro cantos da vida.
Consolo o herói vagabundo,
glorifico soldado vencido,
Não posso amar ninguém porque sou o amor,
Tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos
E a pedir desculpas ao mendigo.
Sou o espírito que assiste à Criação
E que bole em todas as almas que encontra.
Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo,
Nada me fixa nos caminhos do mundo.
Murilo Mendes
Saudação à Cecília
Miragem de deus numa criança.
Convocação de tantos sentimentos bons.
Seja bem vinda em nossos braços, olhos e lábios.
Em cada cavidade dos nossos emaranhados corações.
Seja bem vinda nas delícias, lutas e milagres da vida.
Cecília,
Você é mais que um presente bom.
Você é a celebração de alianças e realizações.
Você propõe a bisa, a avó, a mãe e a tia.
Mais do que isso,
Você esgarça o tempo e inicia a constituição de novas identidades:
Você seguida semente;
Nós:
A avó em Bisa;
A mãe em Avó;
A filha em Mãe;
A irmã em Tia.
Tudo isso e tanto de nós em você, Cecília.
Convocação de tantos sentimentos bons.
Seja bem vinda em nossos braços, olhos e lábios.
Em cada cavidade dos nossos emaranhados corações.
Seja bem vinda nas delícias, lutas e milagres da vida.
Cecília,
Você é mais que um presente bom.
Você é a celebração de alianças e realizações.
Você propõe a bisa, a avó, a mãe e a tia.
Mais do que isso,
Você esgarça o tempo e inicia a constituição de novas identidades:
Você seguida semente;
Nós:
A avó em Bisa;
A mãe em Avó;
A filha em Mãe;
A irmã em Tia.
Tudo isso e tanto de nós em você, Cecília.
domingo, 6 de setembro de 2009
Poeta em suspensão
Mulher com fala atravessou a rua para me beijar.
Vestida de madrugada suspendeu meu primeiro juízo.
Não era tão osso. Tinha poesia nas ventas. Queria sempre outro copo.
Curti.
Segui.
Parti.
Mas ela bateu à minha porta com um poeta maior.
Com suas mãos tirou meu sexo das calças.
Curti mais ainda.
Aceitei brincar.
A três centímetros do chão
queria ser minha amiga
queria que cantasse com ela.
A nove centímetros do chão
me deu seus primeiros versos.
Emaranhados estavam seus mistérios.
Neste momento levantei da cadeira e me debrucei à janela.
O mais infeliz do infeliz dos homens me soprou o silêncio.
Ela viu e floriu
me deu mais versos para cheirar.
Vesti meu terno.
Fui desfilar alguma coisa aos seus ouvidos.
Ela foi ao mar.
Pediu um presente.
Salgou meus olhos e minha garganta.
Tinha pressa e não mais flores para dar
Era uma mulher, só, não um poeta.
Dobrou os lençóis, ligou o despertador, guardou as garrafas e seus poemas rasgados.
Não ligou a televisão porque não a tinha em casa.
Do seu coração escreveu este conto.
E saiu cheirosa em dó
macia que só
em sua nova pele violeta
Mulher derrotada
não sabe que acendeu três segundos de minha alma.
Vestida de madrugada suspendeu meu primeiro juízo.
Não era tão osso. Tinha poesia nas ventas. Queria sempre outro copo.
Curti.
Segui.
Parti.
Mas ela bateu à minha porta com um poeta maior.
Com suas mãos tirou meu sexo das calças.
Curti mais ainda.
Aceitei brincar.
A três centímetros do chão
queria ser minha amiga
queria que cantasse com ela.
A nove centímetros do chão
me deu seus primeiros versos.
Emaranhados estavam seus mistérios.
Neste momento levantei da cadeira e me debrucei à janela.
O mais infeliz do infeliz dos homens me soprou o silêncio.
Ela viu e floriu
me deu mais versos para cheirar.
Vesti meu terno.
Fui desfilar alguma coisa aos seus ouvidos.
Ela foi ao mar.
Pediu um presente.
Salgou meus olhos e minha garganta.
Tinha pressa e não mais flores para dar
Era uma mulher, só, não um poeta.
Dobrou os lençóis, ligou o despertador, guardou as garrafas e seus poemas rasgados.
Não ligou a televisão porque não a tinha em casa.
Do seu coração escreveu este conto.
E saiu cheirosa em dó
macia que só
em sua nova pele violeta
Mulher derrotada
não sabe que acendeu três segundos de minha alma.
Fiadeira
Barry Lategan |
tem sempre a mesma hora
faz sempre a mesma regra
se acha muito sabido.
O homem derrotado
odeia a palavra ordinário
(Ordinary)
É vaidoso
desatento
egoista.
Seu umbigo é seu tesouro.
O homem derrotado não sente palavrão
acha que voa com avião
que suas dores são musculares
que devaneio é exercício intelectual.
O homem derrotado
se apega aos amores cansados
se convence que é melhor amar no dia seguinte.
O homem derrotado
dorme todas as noites em minha nuca
vou devorar o homem derrotado
fiar versos para ele dormir
Afinal, nem sempre se tem entre as coxas um deus.
O homem do fim do mundo
colore os versos de passarinho
é desapego
distraído
miudinho.
Esquece história no caminho.
O homem do fim do mundo
sabe que suas dores não são amargura
anda a nove centímetros do chão
sabe que é urgente o amor.
O homem do fim do mundo
dorme todas as noites em minha nuca
vou beber o homem do fim do mundo
fiar versos para ele dormir
Afinal, nem sempre se morde do pêssego de deus.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
vou descansar um pouco.
Vou à busca do doce agrado do mar.
Se você quiser,
trago ele na pele para você lamber.
E não é seu agradecimento que desejo,
Quero sua saliva, além do verbo.
Vamos nos encontrar num canto qualquer da mesma cidade?
Quero fazer ninho de poesia dos lençóis de nossa carne.
Acordar molhada nas dobras do seu silêncio.
Ai, gulosa lua que me sugere outros segredos.
Qual é a nova canção?
De encontro?
De espera?
De desapego?
Voltemos a brincar de amor natural.
Já é manhã de setembro
e estou no tutano do osso.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Dá-me a tua mão
Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério
e fogo que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.
Clarice Lispector
Vou agora te contar como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério
e fogo que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.
Clarice Lispector
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Gosto do verso que sua boca dá, meu amigo.
Do espanto na cama que ainda não experimentamos
Da minha pele retesada entre os músculos que é o seu coração.
Gosto de me encaixar entre suas coxas e dançar com seu tornozelo
De você beber minha chama e dourar o céu da boca.
Gosto da alvorada e da cerveja na goela dos bandidos
De sua lingua gelada, entorpecida, paciente.
Das madrugadas que ainda não vi com você
No meu jardim há um hibisco que nunca esquece de florir
Do lado o maior bonsai do mundo
Gosto de te penetrar.
Do espanto na cama que ainda não experimentamos
Da minha pele retesada entre os músculos que é o seu coração.
Gosto de me encaixar entre suas coxas e dançar com seu tornozelo
De você beber minha chama e dourar o céu da boca.
Gosto da alvorada e da cerveja na goela dos bandidos
De sua lingua gelada, entorpecida, paciente.
Das madrugadas que ainda não vi com você
No meu jardim há um hibisco que nunca esquece de florir
Do lado o maior bonsai do mundo
Gosto de te penetrar.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Minhas palavras
Amor não sei, amigo,
mas tesão, curiosidade, vontade, surpresa, alegria, tristeza, inspiração, ao certo.
Quer saber? Amor, enfim.
Afinal existem tantas formas de amar.
Amor nunca deve ser uma palavra maldita.
Amo esta brincadeira que você aceitou trocar comigo.
Amo estes pensamentos de poesia que você me suscitou.
E, principalmente, amo este toque de despertar que você deu ao meu coração que estava tão calado.
Esta é minha meia história e minhas meias verdades.
Confesso que tem perturbado o sono,
mas tem me orientado ao encontro de uma nova mulher.
Gosto das paisagens que seus olhos fazem ver
e isso tem mais a ver comigo do que com este acre-doce amigo.
Tem mais a ver com as aventuras e seus amores pretéritos do que com os presentes/futuros.
Por isso que posso carregar comigo esta mulher inteira do agora.
Ela brilha,
colore as ruas,
colore os homens.
Transborda.
Devaneia como poucos fazem por ai.
Desculpe-me se ela grita demais nos seus ouvidos.
Talvez seja chegado o momento de te dar o silêncio.
Então, hoje executarei meus versos nas ondas do mar para assim poder ter sentir salgado.
mas tesão, curiosidade, vontade, surpresa, alegria, tristeza, inspiração, ao certo.
Quer saber? Amor, enfim.
Afinal existem tantas formas de amar.
Amor nunca deve ser uma palavra maldita.
Amo esta brincadeira que você aceitou trocar comigo.
Amo estes pensamentos de poesia que você me suscitou.
E, principalmente, amo este toque de despertar que você deu ao meu coração que estava tão calado.
Esta é minha meia história e minhas meias verdades.
Confesso que tem perturbado o sono,
mas tem me orientado ao encontro de uma nova mulher.
Gosto das paisagens que seus olhos fazem ver
e isso tem mais a ver comigo do que com este acre-doce amigo.
Tem mais a ver com as aventuras e seus amores pretéritos do que com os presentes/futuros.
Por isso que posso carregar comigo esta mulher inteira do agora.
Ela brilha,
colore as ruas,
colore os homens.
Transborda.
Devaneia como poucos fazem por ai.
Desculpe-me se ela grita demais nos seus ouvidos.
Talvez seja chegado o momento de te dar o silêncio.
Então, hoje executarei meus versos nas ondas do mar para assim poder ter sentir salgado.
Assinar:
Postagens (Atom)