No mármore da mesa escrevo
Letras que não formam nome algum.
O meu caixão será de mogno,
Os grilos cantarão na treva...
Fora, na grama fria, devem estar brilhando as gotas pequeninas do orvalho.
Há, sobre a mesa, um reflexo triste e vão
Que é o mesmo que vem dos óculos e das carecas.
Há um retrato do Marechal Deodoro proclamando a República.
E de tudo, irradia, grave, uma obscura, uma lenta música...
Ah, meus pobres botões! eu bem quisera traduzir, para vós, uns dois ou três compassos do Universo!...
Infelizmente não sei tocar violoncelo...
A vida é muito curta, mesmo...
E as estrelas não formam nenhum nome.
Mario Quintana - Aprendiz de Feiticeiro, 1950
quarta-feira, 30 de junho de 2010
terça-feira, 29 de junho de 2010
Dedução
segunda-feira, 28 de junho de 2010
A Bela e o Dragão
As coisas que não têm nome assustam, escravizam-nos, devoram-nos...
Se a bela faz de ti gato e sapato, chama-lhe, por exemplo, A BELA
DESDENHOSA. E ei-la rotulada, classificada, exorcizada, simples marionete
agora, com todos os gestos perfeitamente previsíveis, dentro do seu papel de
boneca de pau. E no dia em que chamares a um dragão de JOLI, o dragão
te seguirá por toda parte como um cachorrinho...
Mario Quintana
Sapato Florido, 1948
INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA
A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!
Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...
Mario Quintana
dançamos, salamandras mágicas
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!
Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...
Mario Quintana
quarta-feira, 23 de junho de 2010
terça-feira, 22 de junho de 2010
Tempo
Onde andarás nesta noite de lua clara e sem fim?
andarás solitária no inverno do centro de minha cidade?
Parada quem sabe em face à imersão de suas ruas cheias de pressa?
Andarás feminina, fabricável, incolor?
Andarás por meus sonhos mesmo que te peça que permaneça em casa?
Mulher que entorta os caminhos,
sabia que existem quase mil espécies de morcegos no mundo e apenas três são hematófagas?
os pimentões são os legumes mais tóxicos?
e que há um vivedouro de estrelas na grande nuvem de Magalhães?
espera, o tempo desdobra seus desejos de não voltar.
irremediável é a vida enquanto se respira.
Nem as mães são só felizes
viver enverga
aprendi com o tempo modelado na obra do corpo de Oscar
andarás solitária no inverno do centro de minha cidade?
Parada quem sabe em face à imersão de suas ruas cheias de pressa?
Andarás feminina, fabricável, incolor?
Andarás por meus sonhos mesmo que te peça que permaneça em casa?
Mulher que entorta os caminhos,
sabia que existem quase mil espécies de morcegos no mundo e apenas três são hematófagas?
os pimentões são os legumes mais tóxicos?
e que há um vivedouro de estrelas na grande nuvem de Magalhães?
espera, o tempo desdobra seus desejos de não voltar.
irremediável é a vida enquanto se respira.
Nem as mães são só felizes
viver enverga
aprendi com o tempo modelado na obra do corpo de Oscar
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Poema à boca fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,... Ver mais
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago em: OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,... Ver mais
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago em: OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição
Juntando Saramago a Saramago
Alice Olive |
Na ocasião da doença e
seguido falecimento de Mario Benedetti, Saramago separado do amigopoeta por um
oceano, mas companheiro de suas convicções, convidou todos ao redor do mundo,
juntar Benedetti a Benedetti através da leitura de seus poemas. Façamos o
mesmo: juntemos Saramago a Saramago. Nossa maior homenagem, ler Saramago no
nosso exercício diário de abrirmos os olhos e intervirmos neste agridoce mundo.
"O
Evangelho segundo Jesus Cristo" aberto aleatoriamente na página 363
"Manhã
de Nevoeiro. O pescador levanta-se da esteira, olha pela fresta da casa o
espaço branco e diz para a mulher, Hoje não vou ao mar, com uma névoa assim até
os peixes se perdem debaixo de água. Disse-o este, e, por iguais ou parecidas
palavras, também disseram os mais pescadores todos, duma margem e da outra,
perplexos pela extraordinária novidade de um nevoeiro impróprio da época do ano
em que estamos. Só um, que pescador de ofício não é, ainda que com os
pescadores seja o seu viver e trabalhar, assoma à porta da casa como para
certificar-se de que é hoje o seu dia, e, olhando o céu opaco, diz para dentro,
Vou ao mar. Por trás do seu ombro, Maria de Magdala pergunta, Tens de ir, e
Jesus respondeu, Já era tempo, Não comes, Os olhos estão em jejum quando se
abrem de manhã. Abraçou-a e disse, Enfim, vou saber quem sou e para o que sirvo
(...)"
José Saramago
t-fa� � : B 8�
��*
s FB","sans-serif";color:black'>—
Quer que eu mesmo tire? Pode machucar.
—
Não. Eu tiro sozinho. Quer dizer... Estou meio sem jeito. Essa fivelinha
enguiça quando menos se espera. Por favor, me ajude.
O
outro ajudou, a pulseira não era mesmo fácil de desatar. Afinal, o relógio
mudou
de
dono.
—
Agora posso continuar?
—
Continuar o quê?
—
O passeio. Eu estava passeando, não viu?
—
Vi, sim. Espera um pouco.
—
Esperar o quê?
—
Passa a carteira.
—
Mas...
—
Quer que eu também ajude a tirar? Você não faz nada sozinho, nessa idade?
—
Não é isso. Eu pensava que o relógio fosse bastante. Não é um relógio qualquer,
veja bem. Coisa fina. Ainda não acabei de pagar...
—
E eu com isso? Então vou deixar o serviço pela metade?
—
Bom, eu tiro a carteira. Mas vamos fazer um trato.
—
Diga.
—
Tou com dois mil cruzeiros. Lhe dou mil e fico com mil.
—
Engraçadinho, hem? Desde quando o assaltante reparte com o assaltado o produto
do assalto?
—
Mas você não se identificou como assaltante. Como é que eu podia saber?
—
É que eu não gosto de assustar. Sou contra isso de encostar o metal na testa do
cara. Sou civilizado, manja?
—
Por isso mesmo que é civilizado, você podia rachar comigo o dinheiro. Ele me
faz falta, palavra de honra.
—
Pera aí. Se você acha que é preciso mostrar revólver, eu mostro.
—
Não precisa, não precisa.
—
Essa de rachar o legume... Pensa um pouco, amizade. Você está querendo me
assaltar, e diz isso com a maior cara-de-pau.
—
Eu, assaltar?! Se o dinheiro é meu, então estou assaltando a mim mesmo.
—
Calma. Não baralha mais as coisas. Sou eu o assaltante, não sou?
—
Claro.
—
Você, o assaltado. Certo?
—
Confere.
—
Então deixa de poesia e passa pra cá os dois mil. Se é que são só dois mil.
—
Acha que eu minto? Olha aqui as quatro notas de quinhentos. Veja se tem mais
dinheiro na carteira. Se achar uma nota de 10, de cinco cruzeiros, de um, tudo
é seu. Quando eu confundi você com um, mendigo (desculpe, não reparei bem) e
disse que não tinha trocado, é porque não tinha trocado mesmo.
-Tá
bom, não se discute.
—
Vamos, procure nos... nos escaninhos.
—
Sei lá o que é isso. Também não gosto de mexer nos guardados dos outros. Você
me passa a carteira, ela fica sendo minha, aí eu mexo nela à vontade.
—
Deixe ao menos tirar os documentos?
—
Deixo. Pode até ficar com a carteira. Eu não coleciono. Mas rachar com você,
isso de jeito nenhum. É contra as regras.
—
Nem uma de quinhentos? Uma só.
—
Nada. O mais que eu posso fazer é dar dinheiro pro ônibus. Mas nem isso você
precisa. Pela pinta se vê que mora perto.
—
Nem eu ia aceitar dinheiro de você.
—
Orgulhoso, hem? Fique sabendo que tenho ajudado muita gente neste mundo. Bom,
tudo legal. Até outra vez. Mas antes, uma lembrancinha.
Sacou
da arma e deu-lhe um tiro no pé.
Carlos
Drummond de Andrade, Texto extraído do livro "Os dias lindos",
Livraria José Olympio Editora — Rio de Janeiro, 1977, pág. 54.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Fruta aberta
Agora sei quem sou.
Sou
pouco, mas sei muito,
porque
sei o poder imenso
que
morava comigo,
mas
adormecido como um peixe grande
no
fundo escuro e silencioso do rio
e
que hoje é como uma árvore
plantada
bem alta no meio da minha vida.
Agora
sei as coisa como são.
Sei
porque a água escorre meiga
e
porque acalanto é o seu ruído
na
noite estrelada
que
se deita no chão da nova casa.
Agora
sei as coisas poderosas
que
valem dentro de um homem.
Aprendi
contigo, amada.
Aprendi
com a tua beleza,
com
a macia beleza de tuas mãos,
teus
longos dedos de pétalas de prata,
a
ternura oceânica do teu olhar,
verde
de todas as cores
e
sem nenhum horizonte;
com
tua pele fresca e enluarada,
a
tua infância permanente,
tua
sabedoria fabulária
brilhando
distraída no teu rosto.
Grandes
coisas simples aprendi contigo,
com
o teu parentesco com os mitos mais terrestres,
com
as espigas douradas no vento,
com
as chuvas de verão
e
com as linhas da minha mão.
Contigo
aprendi
que
o amor reparte
mas
sobretudo acrescenta,
e
a cada instante mais aprendo
com
o teu jeito de andar pela cidade
como
se caminhasses de mãos dadas com o ar,
com
o teu gosto de erva molhada,
com
a luz dos teus dentes,
tuas
delicadezas secretas,
a
alegria do teu amor maravilhado,
e
com a tua voz radiosa
que
sai da tua boca
inesperada
como um arco-íris
partindo
ao meio e unindo os extremos da vida,
e
mostrando a verdade
Como
uma fruta aberta.
Thiago
de Mello
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Botânica
Eu sou temperamental
como uma muda transplantada
Tem Luz.
Tem Água.
Tem Terra.
Mas não necessariamente sobrevive.
como uma muda transplantada
Tem Luz.
Tem Água.
Tem Terra.
Mas não necessariamente sobrevive.
domingo, 13 de junho de 2010
Nada disfarça o apuro do amor
Um carro em ré. Memória de água em movimento. Beijo.
Gosto particular da tua boca. Último trem subindo ao
céu.
Aguço o ouvido.
Os aparelhos que só fazem som ocupam o lugar
clandestino da felicidade.
Preciso me atar ao velame com as próprias mãos.
Sirgar.
Daqui ao fundo do horto florestal ouço coisas que
nunca ouvi, pássaros que gemem.
terça-feira, 8 de junho de 2010
Entre vírgulas
Eu sou barroca
alguns pedaços de mim já são adorno
outros destroços.
no meu traço o horizonte se estende
sempre no mesmo som e no mesmo azul
em versões infinitas de eventualidades.
Eu tenho apegos:
apego por meu novo guarda-chuva de hibisco
que atravessa a chuva com intenções de borboleta
e de rodopio de menina nas poças.
Apego por uma pilha equilibrada de livros ao lado da cama,
Rimbaud com mania de comparecer aos próprios desencontros
mesmo que sejam de amor natural.
Eu sou, aliás, uma vírgula
acerto de incertezas que garantem o assombro e o delicado da vida
entre enfim e até quando,
eu sinto tédio,
por isso respiro a mesma fotografia
e não faço questão de tomar chá as cinco.
Prefiro as horas afeitas aos poetas
e seus abraços se derretendo na roda de minha solitude.
Eu sou caminho.
E o carnaval é o ângulo onde mais estou crua.
alguns pedaços de mim já são adorno
outros destroços.
no meu traço o horizonte se estende
sempre no mesmo som e no mesmo azul
em versões infinitas de eventualidades.
Eu tenho apegos:
apego por meu novo guarda-chuva de hibisco
que atravessa a chuva com intenções de borboleta
e de rodopio de menina nas poças.
Apego por uma pilha equilibrada de livros ao lado da cama,
Rimbaud com mania de comparecer aos próprios desencontros
mesmo que sejam de amor natural.
Eu sou, aliás, uma vírgula
acerto de incertezas que garantem o assombro e o delicado da vida
entre enfim e até quando,
eu sinto tédio,
por isso respiro a mesma fotografia
e não faço questão de tomar chá as cinco.
Prefiro as horas afeitas aos poetas
e seus abraços se derretendo na roda de minha solitude.
Eu sou caminho.
E o carnaval é o ângulo onde mais estou crua.
Maarten Vanden Abeele |
Para que serve minha
vida e o que vou fazer com ela? Não sei e sinto medo. Não posso ler todos os
livros que quero; não posso ser todas as pessoas que quero e viver todas as
vidas que quero. E por que eu quero? Quero viver e sentir as nuances, os tons e
as variações das experiências físicas e mentais possíveis de minha existência.
E sou terrivelmente limitada. (…)Tenho muita vida pela frente, mas
inexplicadamente sinto-me triste e fraca. No fundo, talvez se possa localizar
tal sentimento em meu desagrado por ter de escolher entre alternativas. Talvez
por isso queira ser todos – assim, ninguém poderá me culpar por eu ser eu.
Assim, não precisarei assumir a responsabilidade pelo desenvolvimento do meu
caráter e de minha filosofia.
eis
a fuga pra loucura..
Silvia
Plath
segunda-feira, 7 de junho de 2010
domingo, 6 de junho de 2010
Rosto de Ti
Tenho uma solidão
tão
concorrida
tão
cheia de nostalgias
e
de rostos teus
de
adeuses faz tempo
e
beijos bem vindos
de
primeiras de troca
e
de último vagão.
Tenho
uma solidão
tão
concorrida
que
posso organizá-la
como
uma procissão
por
cores
tamanhos
e
promessas
por
época
por
tato e sabor.
Sem
um tremer de mais
me
abraço a tuas ausências
que
assistem e me assistem
com
meu rosto de ti.
Estou
cheio de sombras
de
noites e desejos
de
risos e de alguma maldição
Meus
hóspedes concorrem
concorrem
como sonhos
com
seus rancores novos
sua
falta de candura
eu
lhe ponho uma vassoura
atrás
da porta
porque
quero estar só
com
meu rosto de ti.
Porém
o rosto de ti
olha
a outra parte
com
seus olhos de amor
que
já não amam
como
vives
que
buscam a sua fome
olham
e olham
e
apagar a jornada.
As
paredes se vão
fica
a noite
as
nostalgias se vão
não
fica nada.
Já
meu rosto de ti
fecha
os olhos.
E
é uma solidão
tão
desolada.
Mario
Benedetti
Te quero
Tuas mãos são minha
carícia
Meus
acordes cotidianos
Te
quero porque tuas mãos
Trabalham
pela justiça
Se
te quero é porque tu és
Meu
amor, meu cúmplice e tudo
E
na rua lado a lado
Somos
muito mais que dois
Teus
olhos são meu conjuro
Contra
a má jornada
Te
quero por teu olhar
Que
olha e semeia futuro
Tua
boca que é tua e minha
Tua
boca não se equivoca
Te
quero porque tua boca
Sabe
gritar rebeldia
Se
te quero é porque tu és
Meu
amor, meu cúmplice e tudo
E
na rua lado a lado
Somos
muito mais que dois
E
por teu rosto sincero
E
teu passo vagabundo
E
teu pranto pelo mundo
Porque
és povo te quero
E
porque o amor não é auréola
Nem
cândida moral
E
porque somos casal
Que
sabe que não está só
Te
quero em meu paraíso
E
dizer que em meu país
As
pessoas vivem felizes
Embora
não tenham permissão
Se
te quero é porque tu és
Meu
amor, meu cúmplice e tudo
E
na rua lado a lado
Somos
muito mais que dois.
Mário
Benedetti
sábado, 5 de junho de 2010
Si pudiera elegir mi paisaje
de cosas memorables, mi paisaje
de otoño desolado,
elegiría, robaría esta calle
que es anterior a mí y a todos.... Ver mais
Ella devuelve mi mirada inservible,
la de hace apenas quince o veinte años
cuando la casa verde envenenaba el cielo.
Por eso es cruel dejarla recién atardecida
con tantos balcones como nidos a solas
y tantos pasos como nunca esperados.
Aquí estarán siempre, aquí, los enemigos,
los espías aleves de la soledad,
las piernas de mujer que arrastran amis ojos
lejos de la ecuación dedos incógnitas.
Aquí hay pájaros, lluvia, alguna muerte,
hojas secas, bocinas y nombres desolados,
nubes que van creciendo en mi ventana
mientras la humedad trae lamentos y moscas.
Sin embargo existe también el pasado
con sus súbitas rosas y modestos escándalos
con sus duros sonidos de una ansiedad cualquiera
y su insignificante comezón de recuerdos.
Ah si pudiera elegir mi paisaje
elegiría, robaría esta calle,
esta calle recién atardecida
en la que encarnizadamente revivo
y de la que sé con estricta nostalgia
el número y el nombre de sus setenta árboles.
de cosas memorables, mi paisaje
de otoño desolado,
elegiría, robaría esta calle
que es anterior a mí y a todos.... Ver mais
Ella devuelve mi mirada inservible,
la de hace apenas quince o veinte años
cuando la casa verde envenenaba el cielo.
Por eso es cruel dejarla recién atardecida
con tantos balcones como nidos a solas
y tantos pasos como nunca esperados.
Aquí estarán siempre, aquí, los enemigos,
los espías aleves de la soledad,
las piernas de mujer que arrastran amis ojos
lejos de la ecuación dedos incógnitas.
Aquí hay pájaros, lluvia, alguna muerte,
hojas secas, bocinas y nombres desolados,
nubes que van creciendo en mi ventana
mientras la humedad trae lamentos y moscas.
Sin embargo existe también el pasado
con sus súbitas rosas y modestos escándalos
con sus duros sonidos de una ansiedad cualquiera
y su insignificante comezón de recuerdos.
Ah si pudiera elegir mi paisaje
elegiría, robaría esta calle,
esta calle recién atardecida
en la que encarnizadamente revivo
y de la que sé con estricta nostalgia
el número y el nombre de sus setenta árboles.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
TRANSGRESIONES
Todo mandato es minucioso y cruel
me gustan ias fru gales transgresiones
por ejemplo inventar ei buen amor
aprender en los cuerpos
y en tu cuerpo oír la noche y no deczr amen
trazar cada uno ei mapa de su audacia
aun que nos olvidemos de olvidar
seguro que ei recuerdo nos olvida
obedecer a ciegas deja cíego
crecemos soíamente en ia osadía
só/o cuando transgredo aíguna orden el futuro se vueive respírabie
todo mandato es minucioso y cruel
me gustan las frugaies transgresiones
Todo mandato é minucioso e cruel
eu gosto das frugais transgressões
por exemplo inventar o bom amor
aprender nos corpos
e em seu corpo ouvir a noite e não dizer amém
traçar cada um o mapa de sua audácia
mesmo que nos esqueçamos de esquecer
é certo que a recordação nos esquece
obedecer cegamente deixa cego
crescemos somente na ousadia
só quando transgrido alguma ordem o futuro se torna respirável
todo mandato é minucioso e cruel
eu gosto das frugais transgressões
Mario Benedetti
me gustan ias fru gales transgresiones
por ejemplo inventar ei buen amor
aprender en los cuerpos
y en tu cuerpo oír la noche y no deczr amen
trazar cada uno ei mapa de su audacia
aun que nos olvidemos de olvidar
seguro que ei recuerdo nos olvida
obedecer a ciegas deja cíego
crecemos soíamente en ia osadía
só/o cuando transgredo aíguna orden el futuro se vueive respírabie
todo mandato es minucioso y cruel
me gustan las frugaies transgresiones
Todo mandato é minucioso e cruel
eu gosto das frugais transgressões
por exemplo inventar o bom amor
aprender nos corpos
e em seu corpo ouvir a noite e não dizer amém
traçar cada um o mapa de sua audácia
mesmo que nos esqueçamos de esquecer
é certo que a recordação nos esquece
obedecer cegamente deixa cego
crescemos somente na ousadia
só quando transgrido alguma ordem o futuro se torna respirável
todo mandato é minucioso e cruel
eu gosto das frugais transgressões
Mario Benedetti
SUBURBIA
Christopher-Petrich |
En el centro de mi vida
en
el núcleo capital de mi vida hay una fuente luminosa
un
surtidor que aiza convicciones de cobres
y
es lindo contemplarias y seguirias
en
el centro de mi vida
en
ei núcleo capital de mi vida
hay
un dobor que palmo a palmo va ganando su tiempo
y
es útil aprender su huella firme
en
el centro de mi vida
en
ei núcleo capital de mi vida
la
muerte queda lejos la calma
tiene
olor a lluvia
Ia
iluvía tzene olor a tierra
esto
me lo contaron
porque
yo nunca estoy en ei centro de mi vida.
SUBÚRBIA
No
centro da minha vida
no
núcleo capital da minha vida há uma fonte luminosa
um
chafariz que levanta convicções coloridas
e
é lindo contemplá-las e segui-las
no
centro da minha vida
no
núcleo capital da minha vida há uma dor
que
palmo a palmo vai ganhando seu tempo
e
é útil aprender sua marca firme
no
centro da minha vida
no
núcleo capital da minha vida
a
morte fica longe
a
calma tem cheiro de chuva
a
chuva tem cheiro de terra
isto
me contaram
por
que eu nunca estou no centro da minha vida.
Mario
Benedetti
PEDRITAS EN LA VENTANA
a roberto y adelaida
De vez en cuando la alegria tira piedrítas contra mi ventana
quiere avisarme que está ahí esperando
pero hoy me siento calmo
casi diria ecuáníme
voy a guardar la angustia en su escondite
y íuego a tenderme cara ai techo
que es una posición gallarda y cómoda
para filtrar noticias
y creerlas quién sabe dónde quedan mis próximas huellas
ni cuándo mi historia va a ser computada
quién sabe quê consejos voy a inventar
aún y quê atajo hallaré para no seguirlos
está bien no jugaré aí desahucio
no tatuaré eI recuerdo cori olvidos mucho queda por decir y callar y también quedan uvas para llenar ia boca
está bien me doy por persuadido
que la alegria no tire más piedrítas
abriré la ventana
abriré la ventana
De vez em quando a alegria atira pedrinhas em minha janela
quer avisar-me que está lá esperando
mas hoje me sinto calmo
quase diria equânime
vou guardar a angústia em seu esconderijo
e logo estender-me de cara ao teto
que é uma posição galharda e cômoda para filtrar notícias
e acreditar nelas
quem sabe onde ficam minhas próximas pegadas
nem quando minha história vai ser computada
quem sabe que conselhos vou inventar ainda
e que atalho acharei para não segui-los
está certo não brincarei de despejo
não tatuarei a recordação com esquecimentos
muito fica por dizer e calar
e também ficam uvas para encher a boca
está bem me dou por persuadido
que a alegria não atire mais pedrinhas
abrirei a janela
abrirei a janela
Mario Benedetti
De vez en cuando la alegria tira piedrítas contra mi ventana
quiere avisarme que está ahí esperando
pero hoy me siento calmo
casi diria ecuáníme
voy a guardar la angustia en su escondite
y íuego a tenderme cara ai techo
que es una posición gallarda y cómoda
para filtrar noticias
y creerlas quién sabe dónde quedan mis próximas huellas
ni cuándo mi historia va a ser computada
quién sabe quê consejos voy a inventar
aún y quê atajo hallaré para no seguirlos
está bien no jugaré aí desahucio
no tatuaré eI recuerdo cori olvidos mucho queda por decir y callar y también quedan uvas para llenar ia boca
está bien me doy por persuadido
que la alegria no tire más piedrítas
abriré la ventana
abriré la ventana
De vez em quando a alegria atira pedrinhas em minha janela
quer avisar-me que está lá esperando
mas hoje me sinto calmo
quase diria equânime
vou guardar a angústia em seu esconderijo
e logo estender-me de cara ao teto
que é uma posição galharda e cômoda para filtrar notícias
e acreditar nelas
quem sabe onde ficam minhas próximas pegadas
nem quando minha história vai ser computada
quem sabe que conselhos vou inventar ainda
e que atalho acharei para não segui-los
está certo não brincarei de despejo
não tatuarei a recordação com esquecimentos
muito fica por dizer e calar
e também ficam uvas para encher a boca
está bem me dou por persuadido
que a alegria não atire mais pedrinhas
abrirei a janela
abrirei a janela
Mario Benedetti
Botella al mar
Ninguém me habita
Ninguém me habita.
A não ser o milagre da matéria...
Ver mais
que me faz capaz de amor,
e o mistério da memória
que urde o tempo em meus neurônios,
para que eu, vivendo agora,
possa me rever no outrora.
Ninguém me habita.
Sozinho
resvalo pelos declives
onde me esperam,
me chamam
meu ser me diz se as atendo)
feiúras que me fascinam,
belezas que me endoidecem.
Thiago de Mello
A não ser o milagre da matéria...
Ver mais
que me faz capaz de amor,
e o mistério da memória
que urde o tempo em meus neurônios,
para que eu, vivendo agora,
possa me rever no outrora.
Ninguém me habita.
Sozinho
resvalo pelos declives
onde me esperam,
me chamam
meu ser me diz se as atendo)
feiúras que me fascinam,
belezas que me endoidecem.
Thiago de Mello
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Sintonia para a pressa e presságio
Escrevia no espaço.
Hoje,
grafo no tempo,
na
pele, na palma, na pétala,
luz
do momento.
Sôo
na dúvida que separa
o
silêncio de quem grita
do
escândalo que cala,
no
tempo, distância, praça,
que
a pausa, asa, leva
para
ir do percalço ao espasmo.
Eis
a voz, eis o deus, eis a fala,
eis
que a luz se acendeu na casa
e
não cabe mais na sala.
Paulo
Leminski
Um instante
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