quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sonja Wimmer
 
 
[...]Esse entusiamo é uma vitamina E. "E" de Entusiasmo. Que vem de uma palavra grega que  significa "ter os deuses dentro". E toda vez que vejo que os deuses estão dentro de uma pessoa, ou de muitas, ou de coisas! Da natureza, montanha, rios... Enfim, aí eu digo: Isso é o que falta para me convencer de que viver vale a pena. Então, estou muito contente de estar aqui, como estive antes na Praça do Sol, porque é a prova de que viver vale a pena. E que viver está muito, muito mais além das mesquinharias da realidade política onde se ganha ou se perde... E da realidade individual também! Onde só se pode "ganhar ou perder" na vida! E isso importa pouco. Em relação com esse outro mundo que te aguarda. Esse outro mundo possível. Que está na barriga deste! Vivemos num mundo infame, eu diria! Não incentiva muito... Um mundo mal nascido... Mas existe outro mundo na barriga deste. Esperando... Que é um mundo diferente. Diferente e de parto complicado. Não é fácil o nascimento. Mas com certeza pulsa dentro do mundo em que estamos. Um mundo que "pode ser" pulsando no mundo que "é". Que eu reconheço nessas manifestações espontâneas na Praça Catalunya, ou na Sol em Madri. São as que pude acompanhar. Sei que existem muitas outras, que são a prova disso. E alguns me perguntam: O que vai acontecer? E depois?! Que vai ser? E eu respondo o que vem da minha experiência e digo: Bom... nada! Não sei o que vai acontecer! E não me importa o que "vai" acontecer! Me importa o que "está" acontecendo. Me importa o tempo que "é". E o que "é" é o tempo que se anuncia sobre outro tempo possível que "acontecerá". Mas o que acontecerá no fim, não sei! É como se me perguntassem toda vez que me apaixono, quando vivo uma experiência de amor de verdade. Quando sinto que vivo e não me importo se morrerei nesse momento mágico, quando acontece. Pois então... O amor é assim! "É infinito enquanto dura!" É importante que seja infinito enquanto dura. Não temos que planejar tudo como se estivéssemos fazendo o balanço do banco! Assim: "Dívida, balanço, saldo! Estatísticas, probabilidades" Vamos consultar as meninas Super Poderosas, ou isso que chamam "Standard & Poor's". É um nome muito eloquente, que significa: "média ou pobreza". Vejamos o que dizem a "Média ou Pobreza", o que nos espera? Que merda me importa o que nos espera?! Esses tecnocratas de quinta categoria, que são uns ignorantes! Que não sabem porra nenhuma e que ganham uns salários altíssimos! E em cada crise que eles desatam acabam aumentando suas fortunas! Porque são recompensados por essas façanhas que consiste em arruinar o Mundo. Esse é o mundo ao contrário: Que recompensa a seus arruinadores ao invés de os castigar! Não tem nenhum preso entre os banqueiros que promoveram, provocaram essa crise no planeta inteiro. Nenhum preso! E por outro lado, há milhares de presos por terem consumido maconha, ou terem roubado uma galinha! Milhares de presos! É o mundo ao contrário! Um mundo de merda! Mas não é o único mundo possível. E cada vez que eu me junto a essas concentrações lindíssimas com os jovens, penso: Há um outro mundo que nos espera: esse "outro mundo". Esse mundo de merda está grávido de outro. E são os jovens que nos levam para frente. Esses jovens excluídos pelas seleções regidas pelos interesses dos partidos políticos. E os jovens já não votam! Eu agora venho da América do Sul. Os jovens chilenos não votaram no Chile. 2 milhões de jovens chilenos não votaram! Não votaram porque não acreditam na democracia que oferecem a eles. E agora quantos jovens não votaram na Espanha? Nem sei! Nem foram contados! Mas dentro dos 10 milhões de espanhóis que não votaram, deve haver muitos jovens que não votaram! E não votaram porque não acreditam nessa democracia que oferecem! E não achem que não acreditam "Na Democracia"; não! Mas "Nessa Democracia" manipulada, nesse nome sequestrado, pelos banqueiros, pelos políticos mentirosos, pelos "artistas de circo" que oferecem um pirueta diferente a cada dia. Havia um velho político no Uruguai, morreu há muito tempo - que não era revolucionário nem nada, um político do sistema. Mas era um homem que conhecia a vida melhor que os outros. E quando lhe ofereciam um candidato a deputado na lista do Partido Nacional - Se chamava Herrera. Falava "axim", fanhoso e tal. - E diziam: "que você acha se indicarmos pra senador o fulanito?" E ele: "Não, não, não! Esse é um redondo" Redondo! Ele chamava de "redondo" aos que ficavam redondos de tanto girar. E era verdade! E na realidade política atual há uma imensa quantidade de redondos que ficam redondos de tanto darem voltas. E os jovens têm culpa de não acreditarem nos redondos?! Ou são os redondos que tem culpa de que os jovens não acreditem neles? E por isso eu gosto de estar aqui conversando. É disso que eu gosto: jogar conversa fora. Se você tivesse pedido para oferecer minha versão do destino da humanidade teria dito: não! Eu gosto de jogar conversa fora, conversar como os meus iguais. Porque são iguais a mim. Porque somos todos iguais na luta por uma vida diferente. E tomara que isso siga vivo, porque senão... Pra que merda vou viver? Se não for porque acredito em algo melhor que isso que é o que me espera. [...]

Transcrição de parte do depoimento de Eduardo Galeano na Praça da Catalunya, 24/04/2011.

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